A Caminho

A vida é um grande novelo de lã

A fronteira entre a alegria e a insanidade é muito ténue
Cada momento da nossa vida é um ponto num dado espaço e tempo. Contabilizados dias, meses ou anos, se unirmos os pontos temos, como no verso das caixas de cereais, uma linha. Um percurso. No nosso caso, não obtemos um desenho de um super-herói ou de um dragão mas sim o total da nossa vida. Podemos olhar dez anos para trás, seguindo essa linha, ou imaginar vinte anos adiante, e onde deixaremos essa linha chegar.

Tudo isto num longo, enovelado e colorido fio de lã que escorre dos nossos pés a cada segundo. O meu vai se amontoando no chão enquanto escrevo sentado.

Foi assim que em Cuenca, Equador, se encontraram três longos fios de lã, cada qual de sua cor. Um partiu do Rio de Janeiro, os outros dois do ponto mais a norte da América, o Yukon, Canadá.

Após várias mensagens enviadas de diversos pontos na estrada destes novelos de vida, encontro-me com a Milène e com o Gabriel, um casal que viaja à boleia de ponta a ponta da América, do Yukon, Canadá, até à Terra do Fogo, Argentina.

Durante 3 dias juntamo-nos cedo e separamo-nos a bocejar. Trocamos histórias, aventuras, sorrisos, dicas de boleias. Depois de tanta estrada e tantos amigos desconhecidos, encontro-me com dois que sinto conhecer há anos.

Um mês de jejum e o regresso das boleias

Como em qualquer chegada de turistas: Táxi! Táxi! Táxi! Não, muito obrigado
Entrar no Equador foi tirar a barriga de miséria, depois de um mês sem boleias em dois países extremamente pobres onde ninguém viaja de carro (Bolívia e Peru).

Assim que cruzo a fronteira Peru-Equador sou, como em tantas outras circunstâncias, assediado: "Táxi! Táxi!" Num laivo de indignação desprezo e levanto o dedo. Em segundos pára a primeira das muitas e fáceis boleias que consegui no Equador, rumo a norte.

Impressionante como este pequeno grande pormenor altera, por completo, o meu estado de espírito. De Outono para Verão!

Largo a melancolia e atiro-me à estrada com um sorriso implacável que atrai boleias fenomenais. Há quem diga que é karma.

Na traseira de uma carrinha de caixa aberta sigo de cabelo ao vento e aquecido por um acolhedor Equador.

Franzo os olhos e sorrio:

"E o meu fio de lã, de que cor será?"

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