Um bife mal passado

Mummy, I want to be an Ambassador

Alexander Ellis, Embaixador Britânico

Porquê ser diplomata? Tentei dar ontem uma resposta aos alunos de Direito da Universidade Católica, num painel para ajudar as "vítimas" de curso de Direito a escolher carreiras. Fui explícito com os alunos; o meu objectivo foi tentar salvar pelo menos uma alma do purgatório de trabalhar numa sociedade de advogados nos próximos quarenta anos.

Então, o que há de tão aliciante na diplomacia? Disse que a minha profissão não é para todos. Tem algumas características que podem ser vistas como inconvenientes, entre as quais:

- A necessidade de mudar de casa de três em três anos. 

- A dificuldade de manter duas carreiras activas quando há tanta mudança.

- A obrigação de respeitar a hierarquia.

Mas por outro lado.... o trabalho é fascinante. Dá acesso a pessoas, culturas e situações que nunca imaginei conhecer na minha vida. Não são só as pessoas ou os sítios mais conhecidos que são necessariamente os mais cativantes. Ouvir vítimas de tortura dar um testemunho das suas experiências, ou ir até uma pequena aldeia da Gronelândia para aprender sobre os efeitos das alterações climáticas para os pescadores indígenas são experiências inesquecíveis.

A aprendizagem é constante; esta é verdadeiramente uma carreira de "life long learning", na qual se aprendem novas "skills" (tive muitas dificuldades em traduzir esta palavra, agradeço a ajuda do leitor) de negociar a gerir, falar em público e, também, o stand still em actos oficiais (mais difícil do que parece).

A variedade deste trabalho é enorme; desde dar apoio a um preso britânico a conduzir negociações através de um adido de imprensa ou, como eu faço actualmente, comandar um pequeno barco em águas estrangeiras.

Mas, como disse, não é para todos. E cabe-nos a nós, diplomatas, darmos a imagem certa do nosso trabalho. Porque senão podemos incentivar pessoas a entrar na diplomacia por, a meu ver, más razões;

- Para ser Embaixador. O meu trabalho actual é pouco representativo daquilo que a maioria dos diplomatas fazem (e do que fiz antes de aqui chegar).

- Para ser servido de luva branca. Há poucas luvas. E ainda menos que sejam brancas. E quando há, normalmente são os diplomatas que estão a servir, não a ser servidos....

- Para comer chocolates Ferrero Rocher. A publicidade engana - são menos acessíveis do que eu esperava.

E uma profissão estanha, um bocado solta; mas quase nunca aborrecida.