Um bife mal passado

Livre pensamento dentro duma Embaixada?

Alexander Ellis, Embaixador Britânico

Este verão, no fim de um longo e agradável dia no Porto a jogar cricket com amigos, e depois de ter jantado bem e brindado à nossa amizade, fomos a uma discoteca nos arredores do Porto, a Bela Cruz. Resultado: nunca me senti tão velho na minha vida. Quando entrei, apercebi-me que a minha roupa e a minha cara me separavam um par de décadas dos rapazes e raparigas que ali estavam e que eram de uma geração bem diferente da minha. Ainda bem que não me atrevi a dançar...

Foi um bocado assim, na semana passada, ao ouvir o famoso guru britânico da gestão, Charles Leadbeater, falar no (excelente) Congresso da APDC. Descreveu de uma maneira muito simples a forma como a internet transformou o ambiente de trabalho ao valorizar um espírito de colaboração e não tanto de direcção.

Leadbeat ilustrou esta ideia com um clip do YouTube que mostra um rapaz a tocar a guitarra no seu quarto. Uma banalidade, mas uma banalidade que mais que 60 milhões de pessoas já viram na internet. 60 milhões! Mais do que a população inteira do Reino Unido. Charles Leadbeater explicou-nos que este clip deu origem a uma comunidade de pessoas (imagino que muito deles rapazes - com guitarras e quartos) a tocar aquela música. Realçou todas as coisas de que este rapaz não precisou para chegar a 60 milhões de pessoas. Não precisou de um realizador ou de equipamento especial. Não teve que fazer parte dum programa da televisão. Não precisou de ser famoso, etc.

E então? Claro, todos conhecemos a capacidade que a Net tem de criar comunidades. Não há nada de novo nisso. Mas a questão é: como é que aplicamos isto às nossas próprias organizações; a forma de gerir "mandando" não dá. Trabalhamos "com" não "para".

Isto implica que eu, como Embaixador, devo esforçar-me mais por saber encorajar e acolher a criatividade de todos e de fazê-lo não através do "hub and spoke" (no qual peço individualmente a cada pessoa o seu contributo); o que precisamos é de criar comunidades, isto é, grupos de pessoas, que saibam trabalhar juntos. Neste cenário, a minha função será  mais definir os objectivos finais da Embaixada do que definir as formas de os alcançar.

Charles Leadbeater utilizou a imagem de alguém a tentar convencer um pássaro de voar do sítio A para o sítio B. Na sua opinião, um consultor externo sugeriria amarrar o pássaro a uma pedra e depois atirar a pedra para o sítio B. Trabalho feito (pena que o pássaro tenha morrido à chegada). Explicou que a gestão por propulsão não funciona e que a gestão por atracção é muito mais certeira. Ou seja, em vez de atirar pedras, devemos espalhar sementes. As pessoas encontram o seu próprio caminho. O que eu posso fazer é indicar a direcção. Eu sugiro o "onde", mas os meus colegas são melhores a definir o "como".