Um bife mal passado

A Madeira e o trabalho consular

Alexander Ellis, Embaixador Britânico

Fui visitar a bonita ilha da Madeira, no passado fim-de-semana, para participar no acto de lembrança das vítimas da guerra. A origem deste acto vem dos anos que se seguiram à I Guerra Mundial, que foi sangrenta duma maneira que não era imaginável no seu começo. Nessa altura, para lembrar os mortos, realizou-se um acto de recordação no dia do Armistício, que tem sido observado todos os anos desde então; esta não é só uma tradição britânica; os franceses fazem a mesma coisa e participei, no dia 11, num acto parecido em Torres Vedras na presença do Senhor Presidente da República. O símbolo deste evento é a papoila, que uso até ao dia 11; a papoila, porque foi a única flor que cresceu nos campos de "morte" do norte de França e da Bélgica.

Mas estou longe de ser o único britânico a visitar a Madeira. Temos, além duma comunidade activa (e histórica) de mais de mil britânicos, à volta de 250.000 visitantes anuais só à Madeira, graças aos voos "low cost", mas também à forma como os meus compatriotas lá são acolhidos, na boa tradição das estadias de Winston Churchill no famoso Hotel Reid's. Isto sem falar dos milhares de turistas britânicos que chegam todos os dias nos barcos cruzeiro que fazem parte da paisagem do porto do Funchal.

Onde há britânicos, há consulados. De facto, os meus colegas do Consulado do Funchal (e em Lisboa, Portimão, Porto e Ponta Delgada) são uma peça essencial no nosso trabalho. Oferecem assistência a "distressed British nationals" que tenham, por exemplo, perdido um passaporte, sido hospitalizados ou, felizmente poucos são os casos, presos. Também oferecem serviços para a comunidade residente (que é agora de cerca de 80.000, a sua maioria no Algarve), por exemplo, registos de nascimento e óbitos, legalização de traduções, emissão de certificados consulares vários. Também fazemos cerimónias de cidadania para novos cidadãos britânicos e organizamos ainda processos para possibilitar a união - civil partnership - entre duas pessoas do mesmo sexo - sendo que um/a dele/as tem obrigatoriamente que ter nacionalidade britânica e, por razões legais, nenhuma pode ter nacionalidade portuguesa.

O trabalho consular é um trabalho exigente, muito variado, às vezes difícil, com situações humanas delicadas e complexas. É, também, um trabalho muito gratificante pelas mesmas razões que às vezes é difícil - envolve-nos, seres humanos, em todo nosso esplendor. Admiro os meus colegas que, no ano passado, tiveram que emitir 498 passaportes de emergência, lidar com 189 mortes e 93 hospitalizações, entre outros casos. E fazem isto com uma vontade e desempenhos notáveis - e ainda bem que é assim. Antigamente, o trabalho consular não era suficientemente apreciado no Ministério - mas agora todos nós, diplomatas, percebemos que os nossos Consulados são a primeira e, muitas vezes, a única parte do Foreign Office que os cidadãos Britânicos vêem. A nossa imagem junto do público depende muito dos meus colegas consulares.