Ré em causa própria

O Livro e a ausência

Adelina Barradas de Oliveira

Hora de comprar um livro que tem de ser lido. Não gosto de livros que têm de ser lidos.

Destino Almedida do Atrium Saldanha, salto alto apressado na calçada e, subitamente o som de um piano ecoa pelo espaço envolto pela escadaria.

Como posso continuar se o piano me faz um apelo a sentar e ouvir?

Um café por favor  e um bolo,... sim,...pode ser esse...

O piano continua,... músicas de Sinatra, temas de filmes,...sons que são sempre novos e presentes pelos anos fora...

Almedina de novo e o casaco do pianista negligentemente sobre o piano.....

Absorto e envolvido por aquilo  que interpreta, partiu para um mundo à parte onde não há chávenas de café, saltos altos ou escadarias de mármore...

Olhos pelos livros e a presença ausente que sempre se faz sentir, quando na FNAC ou na Almedina, me deixo cair no mundo dos livros...

Uma saudade , ou uma falta?

Uma vontade de comprar e levar para que possa ler e reler e voltar a sublinhar.

E a ausência da presença que sempre ocorre à memória....

Pago os livros que comprei e saio. Lá fora o pianista continua envolto no seu mundo e eu espreito-o.

O som reflectido no mármore  envolve memórias nunca realizadas.

Saio para a rua, já é noite  e levo comigo o livro e a ausência.

 

ACCB

 

 

PS: António Pinho Vargas faz anos hoje