Ré em causa própria

O Acórdão do nosso desentendimento

Adelina Barradas de Oliveira

Saiu o acórdão e vai toda a gente de apanhar a parte que "dá jeito".

Embriagados com as passagens que falavam de grau de álcool e de exames ao sangue, as notícias e as opiniões caíram que nem tordos nos jornais e nas redes, sem cuidarem os autores de ler a totalidade do acórdão em vez de arranjarem títulos chamativos.

 

Ninguém pensou que quando faz análises não pode a entidade patronal ter conhecimento delas sem autorização do próprio.

 

Ninguém pensou que se vai sentado no lugar do "pendura", ou do morto ou ao lado do condutor, não tem de responder por culpa do acidente do carro em que segue e, muito menos,  tem de por isso ser despedido porque, apesar de seguir no "lugar do morto", ficou vivo.

 

Ninguém pensou o que seria ser despedido e poderia ser acusado de violar uma norma que não existe na empresa em que trabalha.

 

Ninguém sabe distinguir entre Direito Penal e Direito Laboral.

 

Todos defendem direitos fundamentais, protecção de dados, reserva da vida pessoal, nulla poena sine lege, mas todos preferiram dizer mal dos tribunais, pôr em causa a decisão de um tribunal superior e desvirtuar descontextualizando, a decisão daqueles que aplicam a lei em seu nome e para sua protecção.

 

Uma leitura rápida e atenta do acórdão teria evitado tanto rio de inutilidades.

Que jornalismo temos nós que nem a quem aplica os princípios que diz defender, entende e respeita?

 

Onde anda a noção do Direito Fundamental a informar e a ser informado?

Onde anda a noção de que não se pode violar uma regra que não existe?

Para quando o diálogo necessário entre os Media e a Justiça?

 

ACCB