Ré em causa própria

A Bandeira a meia haste

Adelina Barradas de Oliveira

Portugal vive mais um Verão de angústia. Os nossos bombeiros, na sua esmagadora maioria voluntários, não têm mãos a medir. Redundante e repetitivo, quase desnecessário será dizer que arriscam a Vida para proteger outras Vidas nelas, o ecossistema e o equilíbrio ecológico.

Se pensarmos bem no tipo de crimes que podem ser preenchidos quando alguém ateia um incêndio, talvez a punição não seja só pelo crime de incêndio.

Pois não é previsível que um monstro desgovernado como é o  que é feito de comburentes e combustíveis, possa provocar a morte de outros seres ? Não é previsível que bombeiros morram no fogo a combatê-lo? E não é previsível que a restante população seja atingida?

 

 Não são crimes contra o ambiente os crimes de incêndio que devastam hectares e hectares de floresta, terras cultivadas e a  fauna que os habita? Não provocam danos? Não deixam proprietários na miséria sem árvores que foram cuidadas anos a fio?

E as casas de habitação? Quantas pessoas perdem as suas, com todos os bens de uma vida ganhos com o suor do seu rosto.

Não é drama, é mesmo crime.

Em poucos dias perdemos MAIS UMA VEZ e mais que uma vez, bombeiros. Bombeiros voluntários, com vida como a nossa, filhos como nós, com desejos e sonhos como nós, e com coragem,... porque nem todos temos coragem de sermos voluntários em causas humanitárias como o são as de segurança e protecção civil.

 

Que vamos fazer? Como  mudar isto? Não basta comentar, escrever nos jornais, publicar fotografias. Já vimos que a prevenção feita desta forma não mentaliza ou motiva os criminosos nem os afasta de práticas como as que sabemos existir.

Não basta que as polícias investiguem e tenham indivíduos referenciados com tendência para estas práticas como reincidentes.

Não basta.

 

Hoje, pelas quatro horas, disseram-me, todos os bombeiros tocarão as sirenes dos quartéis em homenagem aos bombeiros caídos no combate às chamas que devoram sonhos, bens, vidas.

 

Hoje a nossa bandeira deveria estar a meia haste pelo que já perdemos em resultado dos incêndios que destroem o nosso pequeno País de alma grande.

 

Hoje senhor Ministro da Administração Interna, senhora Ministra da Justiça, senhora Procuradora Geral da República, as sirenes que tocarem simbolizarão a homenagem  àqueles que lutam no terreno conta os incêndios e, talvez simbolizem a voz do Povo Português que vos diz que é chegada a  vossa hora no combate às chamas.

Acredito sinceramente que nenhum de vós, como qualquer um de nós,  está indiferente ao que tem acontecido.

Talvez seja a hora de mudar estratégias de combate a esta tragédia repetida todos os anos de forma cada vez mais cruel e violenta.

É a vossa hora.

 

A todos os bombeiros a minha sincera homenagem com a devida vénia.

 

ACCB

 

Imagem de http://bvvno.webnode.pt