Por razões óbvias, andamos entretidos com os problemas internos da Europa. Mas, volta e meia, convém olhar para lá das nossas coordenadas. E, meus amigos de infortúnio europeu, uma coisa é certa: se o Altíssimo der uma abébia, se tivermos sorte, se o Euro sair vivo do presente turbilhão, a Europa não poderá respirar fundo, porque terá de resolver outro problema. Que magno problema é esse? Ora essa, estou a falar do crescente declínio da Europa em todos os indicadores quantitativos e normativos da política internacional. Neste livro, Giulio Tremonti, o atual ministro da economia de Itália, deixa um aviso semelhante. Aliás, Tremonti chega ao ponto de colocar em causa a perspectiva do nosso mapa-mundo.
De facto, um mapa político não é uma simples amostragem geográfica das fronteiras políticas do mundo. Um mapa político é mais do que isso: traz consigo uma declaração política. Melhor: traz consigo uma declaração epistemológica. O nosso mapa, com a Europa ao centro, declara a centralidade da Europa na política mundial. Sucede que esta centralidade fazia sentido no século XIX e mesmo no XX, mas já não faz sentido no século XXI, o século em que o Pacífico emerge como rival do Atlântico. Por outras palavras, nós, europeus, temos de aprender a percepcionar o mundo de outra maneira. Não só porque os asiáticos estão a recuperar o seu velho peso, mas acima de tudo porque os americanos (a nossa principal referência) gastam cada vez mais capital político no Pacífico e na Ásia. Para Obama, o futuro está no Pacífico. Aliás, tal como salienta Tremonti, o Pacífico sempre foi encarado pelos americanos como o oceano do futuro, por oposição ao oceano do passado, o Atlântico. Aquando da instalação do cabo telegráfico que ligava São Francisco à Ásia, Theodore Roosevelt afirmou que o Pacífico tornar-se-ia no "Novo Mediterrâneo". Em 2011, podemos dizer que a profecia de Roosevelt é um facto.
Depois de resolver o problema do Euro, a Europa tem de olhar para este pormaior.