Encontrar filmes para a criançada não é tão fácil como parece. Porque, sim senhora, eles têm de gostar do filme, mas os respectivos adultos também têm de apreciar a coisa. No fundo, está aqui em causa o género secreto do cinema moderno: o filme-para-crianças-que-os-adultos-adoram-ver-porque-o-filme-já-não-é-bem-para-crianças. Este subgénero é fundamental na ida ao cinema, mas também dá jeito em casa. Dá um jeitão fingir que estamos no sofá a ver bonecos só por causa dos putos, e só por causa deles.

Malgrado a raridade da coisa, já existem alguns bons filmes neste subgénero: Toy Story 3, Wall.E e talvez o How to Train Your Dragon. Mas, há dias, descobri aquele que é, porventura, o melhor filme desta categoria aubterrânea. Estou a falar do 9, uma espécie de Tim Burton meets Mad Max. O cenário é o menos infantil possível. Estamos num ambiente pós-apocalíptico que colocaria Mel Gibson de pernas bambas. Lembram-se do Terminator? Pois, agora apliquem isso à época da I Guerra Mundial. Aproveitando essa guerra, as máquinas emergem como reis e senhores da terra, destruindo a humanidade numa carnificina rijinha. Giro para um filme de crianças, não é? Bom, antes da destruição total, o cientista que inventou o Deep Blue das máquinas assassinas encontra o caminho da sua redenção. Através de uns pozinhos de perlimpimpim, ele transfere a sua alma para nove bonequinhos de trapos, que, como podem ver, foram feitos na oficina do mestre Tim Burton. Como seria de esperar, os tais bonecos, liderados pelo intrépido e doce 9, salvam o dia e a humanidade renasce assim na pele de nove pequenos Eduardos-Mãos-de-Tesoura. É à confiança: não vão encontrar melhor filme para ver com os putos.