José Milhazes escreveu uma coisa nova: "Cunhal, Brejnev e o 25 de Abril". Eu li e vou ouvir José Magalhães, que o apresenta hoje. E ao próprio autor, claro. É às 18h e 30 na Leya/Bucholz. A Quixote convida.
Escrevo sobre este acontecimento, não só por manter uma atenção sobre a realidade e a Rússia em especial, mas sobretudo porque entendo que este livro é fundamental para a história recente do nosso país. Permite compreender porque é que ele - em alturas mais escaldantes do que aquelas nas quais nos encontramos hoje; as vistas eram outras... - seguiu um caminho democrático. E, paradoxalmente, revela que foi a própria URSS que evitou a instalação de uma nova ditadura em Portugal.
José Milhazes apresenta a investigação histórica que fez nos últimos tempos na Rússia, em arquivos, livros e entrevistas que fez a diversos funcionários e altos dignatários do aparelho de Estado da URSS. Nada como falar, e escrever, e ler, na primeira pessoa; basear o conhecimento no que acontece, e não no "diz que diz", ou se pensa "porque sim". O livro desdobra-se em vários pontos. Destaco dois.
1.Com base nas fontes que referi, o historiador revela que a URSS não quis apoiar uma nova revolução no sentido de Portugal enveredar pelo caminho do socialismo. Porquê? Éramos membros da NATO. That´s alll? Há que ler o livro devagar. Milhazes não nos poupa aos baús que abre. É um petit Larrousse. Mas é simples, uma pergunta salta logo: quem enfrenta um conflito com os EUA? Parece que Álvaro Cunhal e os comunistas portugueses dependiam do aval do PC soviético. Não faz sentido referir agora o que penso doutos aspectos do comunismo português, nem de Cunhal, sobre o qual aqui já escrevi;
2. O novo livro do conhecido jornalista apresenta novas evidências de que, no pós 25 de Abril, parte dos Arquivos da Pide terão sido levados para a URSS , com o apoio do PCP. Linhas que, óbvio, têm causado polémica. Alguns historiadores levantaram já voz a pedir que o Estado português tenha uma intervenção diplomática no sentido de os Arquivos serem devolvidos a Portugal.
Clarifica Milhazes, logo no Prefácio: desengane-se "(...) o leitor deste livro se nele espera um ajuste de contas do autor com o seu passado político, não terá sorte. Essa não foi a minha intenção, pois já foi tudo ajustado há muito tempo. Fui convidado pela Dom Quixote para escrever esta obra como jornalista e historiador, daí ter tentado não fazer julgamentos, mas publicar factos que permitam aos leitores tirarem conclusões."; o trabalho não foi fácil pois grande parte dos arquivos soviéticos continuam inacessíveis aos investigadores; " (...) é ao leitor que caberá concluir se consegui juntar provas convincentes sobre o saque do Arquivo da PIDE por parte do PCP e a entrega de documentos importantes, relativos aos contactos internacionais da polícia política portuguesa, aos serviços secretos soviéticos; sobre as formas como o Comité de Defesa do Estado (KGB) e o Partido Comunista da União Soviética tentavam influir no desenrolar dos acontecimentos em Portugal e sobre as razões que levaram o PCP a ser um dos mais convictos apoiantes da política interna e externa soviéticas."