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Sex Pistols com Frank Carter no festival CA Vilar de Mouros: como destruir um legado pode ser (ou não) o mais punk dos gestos

O prato forte do segundo dia do festival de Vilar de Mouros, esta quinta-feira, acabou por ser uma farsa disfarçada de algo novo: os Sex Pistols regressaram a Portugal sem Johnny Rotten mas com Frank Carter, e viram-se transformados numa banda de bar. Já os Damned estiveram bem melhor: afinal quem é mais punk?

Sex Pistols no CA Vilar de Mouros
Tiago Miranda

“Those dumb punk kids will buy anything”, cantou Jello Biafra com os Melvins, em 2005, muitos anos após ter abandonado a banda com a qual se tornou num dos grandes ícones do punk, os Dead Kennedys. A canção era, como se vê e se viu, um ataque acérrimo àquilo que o punk - e a banda, que decidiu metê-lo em tribunal e voltar aos palcos sem ele - se tornou: uma forma de fazer dinheiro, uma peça de museu, um simples estilo musical, algo que perdeu o seu espírito revolucionário para passar a ser apenas e só uma moda, caracterizada por três acordes numa guitarra, piercings em qualquer lugar do corpo, cabelos espetados e roupas rasgadas. Biafra estava, claro, possesso por ver que a sua arte - intransigente, anti-sistema - se tinha transformado numa maneira de vender bilhetes a gente que prefere o conforto da nostalgia ao trabalho que dá construir um futuro. E tinha razão, diga-se de passagem. Ao longo do concerto dos Sex Pistols no CA Vilar de Mouros, sem Johnny Rotten e com Frank Carter como vocalista, lembrámo-nos muitas vezes de Biafra.