“Cuidado, rapaz, tens a cabeça cheia de fantasmas, tens obsessões a mais! Imaginas coisas grandiosas e inventas todo um mundo de deuses à tua disposição, um reino de espíritos que te chama, um ideal que te acena. Tens uma ideia fixa!”: a citação é de Max Stirner, do seminal "O Único E A Sua Propriedade", obra que irritou Marx e Engels ao ponto de lhe dedicarem toda uma crítica em “A Ideologia Alemã”, obra que inspirou correntes anarquistas individualistas, obra que propõe o egoísmo como filosofia única: o “eu” no centro de tudo, a vontade pessoal como motor único (e este “eu” não significa necessariamente um “eu” amoral ou antissocial: podemos ser egoístas no amor que sentimos pelos outros). A citação fez absoluto sentido quando os Massive Attack tocaram uma versão de ‘ROckwrok’, dos Ultravox, enquanto nos ecrãs do palco maior do Parque da Bela Vista passavam mensagens sobre o mundo de teorias da conspiração em que vivemos.
Exclusivo
Massive Attack no festival Kalorama: isto não é só um concerto, é uma obra de arte total
Houve canções como ‘Angel’ ou ‘Unfinished Sympathy’, houve momentos em que o ‘groove’ se colava ao corpo, mas o espetáculo que os Massive Attack levaram ao festival Meo Kalorama, em Lisboa, nunca poderia ser “apenas” um concerto. Foi muito mais do que isso: uma obra de arte total que deixou mais perguntas que respostas, ao ponto de por vezes nos esquecermos de que estava ali uma banda a tocar canções como ‘Song to the Siren’, onde Elizabeth Fraser pontificou como um anjo descido à terra