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“Tentaram silenciar-nos, mas estamos mais fortes e tocamos ainda mais alto”: os músicos afegãos que fugiram para Portugal

O jornal britânico “The Guardian” falou com um grupo de músicos afegãos que fugiu para Portugal, na sequência da tomada de poder por parte dos talibãs, para quem é a música é “imoral”. Entre os refugiados encontra-se o diretor do Instituto Nacional da Música do Afeganistão, que agora vive em Braga. No seu país, “aprender, tocar ou ouvir música é crime”

Ahmad Sarmast, diretor do Instituto Nacional da Música do Afeganistão, em 2011
Getty Images

O jornal britânico “The Guardian” publicou uma reportagem sobre um grupo de músicos afegãos que fugiu para Portugal, na sequência do regresso dos talibãs ao poder.

O grupo é liderado por Ahmad Sarmast, diretor do Instituto Nacional da Música do Afeganistão (ANIM), agora refugiado em Braga. “Os talibãs tentaram silenciar-nos, mas estamos mais fortes e tocamos ainda mais alto”, afirmou.

Este instituto foi fundado em 2010, com o apoio dos Estados Unidos, e juntava no mesmo ensemble rapazes e raparigas, algo impensável no Afeganistão até então. Porém, o regresso ao poder dos talibãs, que consideram a música “imoral”, obrigou-os a fugir do seu país. Em 2018, Sarmast e o ANIM receberam o prestigiado prémio Polar, atribuído na Suécia pela Stig Anderson Music Award Foundation, criado por Stig Anderson (1931-1997), antigo manager dos ABBA.

Ramiz Safa, hoje com 20 anos, foi um dos jovens que fugiu. Soube do regresso dos talibãs quando estava numa loja de música para consertar o seu rubab, um instrumento musical tradicional afegão. “Estava toda a gente a correr e vieram ter comigo. Disseram-me para fugir, porque estava numa loja de música”, disse à jornalista Ashifa Kassam na cidade minhota.

Segundo Sarmast, o Instituto era um dos alvos prioritários dos talibãs, que em 2014 levaram a cabo um atentado suicida durante um espetáculo que matou uma pessoa e deixou o diretor gravemente ferido, tendo aí perdido capacidades auditivas. Sarmast pediu imediatamente auxílio a vários políticos e chefes de estado mas, escreve o “The Guardian”, apenas Portugal respondeu favoravelmente.

O grupo, composto por 273 pessoas, chegou ao país durante o período de confinamento. Alguns acabariam por abandonar o país para se juntarem a familiares em países como a Alemanha. Por agora, sobram 70, que foram realojados em Braga; os menores de idade frequentam escolas locais, ao passo que os maiores de 18 anos têm aulas no conservatório da cidade.

Em 2023, o governo português autorizou as famílias destes músicos a juntarem-se a eles. “Sonhamos com isso, com a reunião destes miúdos com as suas famílias”, afirmou Sarmast. Sobre o governo do seu próprio país, não guarda ilusões. “Hoje em dia, o Afeganistão é uma nação silenciosa. Aprender música é crime. Tocá-la e ouvi-la também”, lamentou.