Consultando alinhamentos de concertos recentes, sabíamos de antemão que o espetáculo trazido por PJ Harvey ao Primavera Sound Porto seria servido a duas velocidades, caindo mais ou menos a meio a linha que separa a punk-rocker do passado noventeiro das contemplações do reportório mais recente. Um ano depois de “I Inside the Old Year Dying” ver a luz do dia, a artista britânica regressou ao palco do festival portuense sem nada para provar mas muito para mostrar, navegando de forma bem planeada por um cancioneiro ricamente texturado. O desprendimento relativo a uma era que ficou encerrada lá atrás fica bem escondido quando se atira ao feminismo aguerrido de ‘Man-Size’ ou ‘Dress’, canções servidas já na reta final, mas os versos enigmáticos, por vezes praticamente impenetráveis, de ‘Prayer at the Gate’ ou ‘A Child’s Question, August’, com o eterno parceiro John Parish ali ao lado a esgueirar-se, marcaram um arranque testa-terreno.
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PJ Harvey no Primavera Sound Porto: a deusa dos alternativos de ontem sabe reclamar o respeito que merece hoje
Confortável entre um passado de bota alta e guitarra rasgada e um presente de canções seriamente intransponíveis, PJ Harvey reconquistou um Primavera Sound Porto que soube estar ao seu lado, mesmo quando a sua guitarra teimou em não se deixar ouvir