Morreu aos 81 anos Sixto Rodriguez, o músico norte-americano cuja história invulgar foi contada, em 2012, no documentário “Searching for Sugar Man”.
Nos anos 70, gravou dois álbuns sem grande impacto na altura da publicação, mas que se tornariam discos de culto por motivos singulares: “Cold Fact”, em 1970, e “Coming to Reality”, em 1971. Quando o artista de Detroit já tinha desistido da música, a sua música começou a obter grande sucesso na África do Sul, tendo as suas canções sido adotadas como hinos anti-apartheid. Muitos fãs sul-africanos acreditavam que Rodriguez já tinha morrido. Em 1988, o norte-americano visitou aquele país, dando concertos para melhores de espectadores em delírio, mas só em 2009 os seus álbuns foram reeditados no resto do mundo.
A sua história chamou a atenção do documentarista Malik Bendjelloul, que em 2012 apresentou o filme “À Procura de Sugar Man”, que conquistaria o Óscar de Melhor Documentário nos prémios realizados no ano seguinte. Com uma nova notoriedade, Rodriguez encetaria aí uma “nova vida” de palco, com vários concertos nos anos subsequentes.
O documentário encontra-se disponível, na íntegra, no YouTube.
A banda-sonora, por sua vez, inclui as mais destacadas canções da breve discografia de Rodriguez. Sobre ela escreveu Luís Guerra no Expresso de 6 de julho de 2013: “É sem pestanejar que afirmamos que aqui se encontram algumas das canções mais belas gravadas na época, supremamente orquestradas e interpretadas com uma pungência desusada. Tivesse Rodriguez tido mais sorte com o seu destino e estaríamos, de há 40 anos a esta parte, a saudar ‘Crucify Your Mind’ (baixo dolente, metais sóbrios, xilofone como marca de água), ‘Inner City Blues’ (boogie lento, letra assombrada) e ‘I’ll Slip Away’ (o encontro entre Nick Drake e Curtis Mayfield) como exemplos superiores da escrita de canções observacional, acima da vacuidade do lugar-comum.”
Na revista BLITZ, edição de agosto do mesmo ano, Lia Pereira elabora: “É complicado ouvir a música de Rodriguez sem pensar no mito que o rodeia. Ao mesmo tempo, a conotação não é intrusiva, uma vez que canções como ‘Sugar Man’, ‘Cause’ ou ‘I Wonder’, aqui compiladas, têm tudo a ver com a aura a que passámos associar a Rodriguez: embebido no contexto folk da época, sem dúvida, e com alguns ecos da soul, mas sobretudo abençoado por uma convicção e beleza genuínas, à prova de tempo e do próprio destino.”