Passar pelos corredores do centro comercial STOP, no Porto, significava até à passada terça-feira encontrar uma “cacofonia de sons”. No bom sentido: por detrás da fachada de edifício antigo e pouco conservado, escondiam-se mais de cem salas remodeladas pelos músicos que, nalguns casos, ali investiram milhares de euros em material e equipamentos. “Se fores pelos corredores, não imaginas o que está do outro lado das portas!”, exclama Ana Matos, a rapper e escritora mais conhecida como Capicua. “É um centro comercial antigo, de corredores com as montras todas tapadas. Mas depois abres as portas e há estúdios super profissionais e salas de ensaios cheias de instrumentos, algumas delas super bonitas, com janelas para a rua.” Na passada terça-feira, Capicua foi uma das centenas de artistas que tiveram de apressadamente retirar os seus haveres do STOP, depois da ordem da Câmara Municipal do Porto para encerrar mais das 100 lojas usadas pelos músicos como salas de ensaio e estúdios de gravação. “Uma das coisas que mais me impactaram quando fui lá, com o Pedro Geraldes e o António Sérginho [seus companheiros na banda Mão Verde], para desmontarmos as nossas coisas mais urgentes, foi o silêncio nos corredores. Normalmente, quando se passa no STOP, ouve-se de tudo: jazz, punk, samba, reggae, música eletrónica… é uma cacofonia de sons pelos corredores, e na terça-feira não havia um som”, lamenta. “Só mesmo algumas pessoas a carregarem material para o elevador, à pressa, porque os polícias tinham de voltar a selar as salas até às seis da tarde. Foi muito triste."
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Calou-se a música nos corredores do STOP: que futuro esperam os artistas que ali a criavam?
Desde terça-feira, centenas de músicos ficaram sem espaço para ensaiar e gravar nas salas que habitualmente ocupavam na Rua do Heroísmo, no Porto. Músicos que ali tinham um lugar privilegiado de criação, como a rapper Capicua ou Adolfo Luxúria Canibal, que com os Mão Morta lá gravou um álbum inteiro, falam de uma “joia única” a nível europeu, avançam ideias e reagem às propostas da Câmara do Porto. Mas, acima de tudo, querem o STOP de volta