Capicua anunciou esta semana que escreveu as 11 canções que irão compor o novo disco da fadista Aldina Duarte.
“Até aqui era um segredo da Aldina Duarte e meu”, começa a artista do Porto por escrever. “Ela, generosa, ensinando-me os poemas do fado e suas regras sagradas. E eu, dedicada, fazendo do trabalho de casa as letras para ela cantar!”
Na mesma publicação, Capicua explica que as canções são 11 ("porque é capicua!"), completando: “Passei o inverno a escrever o ‘disco da Aldina’ e com isso salvei-me muitas vezes. Oxalá não tarde muito a ser vosso também!”
À BLITZ, Capicua explicou que já há algum tempo que Aldina Duarte lhe tinha lançado o desafio mas que, por falta de tempo, a oportunidade de trabalharem juntas ainda não surgira.
“Entretanto, no início deste ano eu tinha um trimestre mais tranquilo e sem grandes obrigações ou metas a curto prazo, então fiz uma proposta à Aldina de fazermos o nosso disco. Mas, para me sentir preparada, combinei que ela me iria dar umas aulas, uma espécie de oficina, como fazia no Museu do Fado, sobre os poemas do fado, as estruturas métricas e as regras de escrita para cada formato dos fados tradicionais. Então combinámos: uma vez por semana, ela dava-me uma aula por Zoom, e o trabalho de casa eu fazia para ela", recorda a autora de “Madrepérola”.
Ao cabo de três meses de aulas com Aldina Duarte, Capicua tinha 11 letras escritas para Aldina Duarte, que há de gravá-las oportunamente. “Para mim foi uma experiência incrível, porque aprendi muito”, diz à BLITZ Capicua. “Tive a honra de ser aprendiz da Aldina e escrever para uma pessoa que sabe muito sobre fado, que gosta muito de poesia e que tem muita sensibilidade. Então também me esforcei muito para aprender o máximo possível, para entrar no seu universo e para conseguir escrever letras à medida dela, respeitando todas as regras dos fados tradicionais e da escrita de poemas para eles. Foi uma experiência de muito prazer”, reforça, “porque o formato poema, mesmo com aqueles constrangimentos das regras e das métricas do fado, faz-me muito bem, do ponto de vista quase espiritual. O exercício de escrever diverte-me muito e, do ponto de vista emocional e espiritual, acaba por ser muito catártico, então foi muito enriquecedor. Estou muito contente com o resultado e espero que o possamos ouvir em breve”, remata.
Esta não é a primeira vez que Capicua trabalha com uma fadista, tendo já escrito duas letras para Gisela João: em 2013, reinventou ‘A Casa de Mariquinhas’, o fado de Alfredo Marceneiro, à luz da crise da troika, e mais recentemente transformou esse mesmo tema em ’O Hostel da Mariquinhas', refletindo o peso do alojamento local nas dificuldades no acesso à habitação. Quanto a Aldina Duarte, já colaborara, no seu álbum mais recente, com Manel Cruz, que para ela escreveu o tema ‘Ela’.
Capicua regressa aos palcos no próximo sábado, 22 de abril, com um concerto no Cineteatro D. João V, na Damaia, onde irá receber, também, o prémio José Afonso. O espetáculo é às 21h.