Gisela João e Capicua acabam de lançar ‘O Hostel da Mariquinhas’, canção que ficou de fora do último álbum da fadista, “Aurora”, e que agora é editada devido à premência do tema que aborda: o da habitação.
Esta é a segunda leitura de Gisela João e Capicua para ‘A Casa de Mariquinhas’, o fado de Alfredo Marceneiro: no seu primeiro álbum, em 2013, a minhota cantou as palavras da rapper, na altura alusivas à crise económica. “Esta casa está mais velha que as vizinhas/ As janelas estão tapadas com tijolos/ E as paredes estão sozinhas/ Só um gato solitário no telhado/ E uma placa que está cheia de letrinhas/ Vende-se oca e esburacada”.
Em 2023, a fachada “está pintada e a entrada decorada a andorinhas”. Na versão apresentada ao vivo por Gisela João no Coliseu, em 2021, conclui-se: “É bonito ver a casa restaurada e há emprego pró menino e prá menina/ Só é pena o português não ganhar para o T3/ E ter que mudar pra lá da Conchichina”.
"Escrevi uma nova versão ('O Hostel da Mariquinhas') que a Gisela ficou de gravar e lançar no disco seguinte. Entretanto, passou algum tempo e uma longa pandemia... E por, na altura, estarmos todos em casa e o turismo paralisado, não fez sentido sair no ‘Aurora’", afirma Capicua, apresentando nas redes sociais a canção. “A novidade é que sai agora (em digital e em vinil), precisamente no momento em que faz mais falta e em que o problema da habitação, muito acentuado pelo crescimento do turismo, nos leva para a rua já no próximo dia 1 de abril!”
“Não tive coragem de pôr esta música no disco porque via tanta gente que trabalha na restauração, na hotelaria, no turismo, aflitos, sem trabalho, com negócios a fechar portas para sempre”, explica Gisela João no Instagram. "A verdade é que estando livre da pandemia, tudo voltou ao mesmo, ao parque de diversões que isto se tornou. A crise da habitação nas cidades está pior do que nunca. As casas emparedadas, na primeira versão, estão agora remodeladas e com rendas incomportáveis, isto se não foram já tornadas num belo hostel ou um alojamento local", aponta.
A manifestação a que Gisela João e Capicua se referem tem lugar a 1 de abril, em Lisboa e no Porto, pelo direito à habitação.