Future tinha contas a prestar ao público português. Em 2017, desiludiu o Super Bock Super Rock com uma prestação pobre e desinteressada. Cinco anos depois, volta a Portugal como último cabeça-de-cartaz da primeira edição do Rolling Loud em território europeu. Acresce, por isso, a responsabilidade de encerrar o festival da melhor maneira. Para um artista da sua dimensão, será pedir muito?
TJ Banks pede, por sua vez, que seja o público a exteriorizar a vontade de receber o rapper norte-americano. É o DJ quem fica encarregue do aquecimento prévio no Loud Stage — e cumpre o propósito com distinção, ao atirar passagens rápidas que vão desde Rae Sremmurd a Pop Smoke. Poucos minutos depois da meia-noite, Future pisa o palco com os seus Nike Air Force 1 brancos (“so fresh and so clean”…), calça axadrezada, camisa de veludo oversized e os característicos óculos de sol através dos quais observa uma plateia composta por “real fans”.
Já para os “day one fans”, Future dedica “Bugatti”, antes de passar por célebres temas como “Thought It Was a Drought”, “For Everyone Now”, ou “New Level”. Cedo apela, também, à libertação de Gunna e Young Thug — detidos no seguimento das ditas “RICO charges”, que envolvem todos os afiliados dos YSL, o grupo destes dois artistas — e pede força pelos companheiros com “pushin P”. Não há refrão que o público não domine e, apesar da entrega morna do rapper de Atlanta, a multidão reunida para esta volta final parece estar do seu lado.
Porém, o espetáculo que vinha num crescendo é interrompido subitamente. Ao que parece, e independentemente dos avisos reforçados por Tariq Cherif (co-fundador do Rolling Loud) ao longo do terceiro dia de festival, a segurança do público está, mais uma vez, em risco. Pede-se, novamente, que se dê um passo atrás em massa. As bandeiras portuguesas não recuam e permanecem a pairar à superfície da enchente humana. Palmas e “olés” empurram o novo arranque do show; mas o regresso de Future vem com ferrugem na engrenagem, o artista perde o pulso à plateia e o ritmo da actuação cai para níveis de baixa intensidade.
Lil Uzi Vert ressurge no palco principal, logo a seguir à sua insólita performance, e junta-se a Future para “Drankin N Smokin”. E por lá fica para mais umas. A sua entrada em cena prometia um novo pico, mas nem o espírito festivo deste artista imprevisível dá volta à coisa: depois de Uzi Vert se “atirar” à primeira fila, reúnem-se ambos no centro, a dançar — e a não cantar — ao som de “Top Shotta”.
“Fuck Up Some Commas” entra a tempo de Future recuperar algum do fulgor perdido entretanto. “I wasn’t gonna do this tonight but”… Portugal merece. “Mask Off” fura o alinhamento naquele que se destaca como o melhor momento do concerto. Podia ter ficado por aqui, que tudo acabava bem. No entanto, Future ainda aposta em Drake com “Wait For U” e “Way 2 Sexy” para conquistar a audiência. Perde as últimas oportunidades de uma saída digna e deixa-se ficar por mais umas quantas faixas em rápidos skips. Despede-se com “LOVE YOU BETTER”, desafinado e já com a multidão a dispersar a passo largo. Não morremos de amores por este concerto. Morremos, sim, na praia.