Blitz

Florence + The Machine no NOS Alive. Começou em transe, seguiu em euforia e acabou num culto

Uns longos 12 anos depois de ser recebida por uma pequena enchente no palco secundário, Florence Welch regressou ao NOS Alive com estrondo e honras de protagonista. Mantendo a simpatia e simplicidade dos primeiros tempos, brindou o festival com os sucessos de um percurso consistente, sem descurar as canções mais vibrantes do novíssimo “Dance Fever”

Num momento em que o rock precisa urgentemente de líderes carismáticos, Florence Welch afirma-se, sem pretensiosismos, como um pequeno animal de palco. Pequeno porque, apesar de não parecer, “só” por cá anda há 15 anos. Desde que se estreou em solo nacional com um concerto intenso, mas ainda imberbe, na Aula Magna, e repetiu a dose poucos meses depois no palco secundário do mesmo NOS Alive que esta noite a abraçou com carinho desmedido, a artista britânica foi subindo, degrau a degrau, todos os patamares de um campeonato muito próprio, adicionando sempre canções memoráveis a um respeitoso currículo discográfico. Acompanhada, como sempre, por uma banda exímia, chegou a este segundo concerto no festival de Algés doze anos depois do primeiro, e soube equilibrá-lo, com mestria, entre as canções que toda a gente conhece e os temas do novíssimo álbum “Dance Fever”.

O início foi servido em transe, ao som de uma quase eclesiástica ‘Heaven is Here’, um dos momentos mais intensos do novo disco. E foi um belo ponto de partida para uma atuação quase sempre eletrizante, nunca enfadonha. Descalça, como sempre, esvoaçando com o seu longo vestido vermelho de um lado ao outro do palco, Welch comandou a plateia com as doses certas de simpatia e desafio. O portentoso hino feminista ‘King’ manteve-a no presente, mas, de seguida, reiterou toda a sua força interpretativa recuando até ‘What Kind of Man’, repleta de rasgos de guitarra e coro forte de fundo, e, indo ainda mais atrás, a uma trovejante ‘Kiss With a Fist’ – com uma pujança que terá feito muitos esquecerem-se de que os Strokes ontem, naquele mesmo palco, se ‘esqueceram’ de tocar ‘Last Nite’.

“Quem é que já esteve num concerto de Florence + The Machine?”, perguntou a artista britânica, a dado momento. A resposta foi forte, mas tornou-se ainda mais efusiva quando chegou a pergunta seguinte: “Quem é que está no seu primeiro concerto de Florence + The Machine?”. “Sejam bem-vindos”, atirou, antes de pedir encarecidamente à imensa plateia que se juntasse a um ritual seu, colocando os telemóveis de lado para ‘Dog Days Are Over’. “Passamos demasiado tempo agarrados aos ecrãs”, defendeu, “quero que estejam uns com os outros”. A voz de Welch ganhou uma densidade incrível com o passar dos anos e isso fica bem à vista nas canções mais frescas, casos de uma intensa ‘Dream Girl Evil’, cantada num longo abraço aos fãs das primeiras filas.

Uma corridinha ‘Ship to Wreck’, os ambientes sonhadores de ‘Cosmic Love’ e o estrondo que é ‘My Love’, single do novo álbum com bons argumentos para entrar diretamente para uma galeria já de si respeitável de sucessos, ajudaram a dar corpo a um concerto que ainda não tinha chegado ao pico. Depois do hino ‘Spectrum’, cantado a plenos pulmões, Florence esclarece, visivelmente emocionada, que resolveu recuperar uma canção que não cantou durante muito tempo, porque a recordava de quando era “muito jovem, triste e bêbeda”, porque os fãs nunca pararam de a ouvir. “Ajudaram-me a gostar dela novamente”, disse, então, antes de se atirar a uma versão arrepiante de ‘Never Let Me Go’. “Quero dedicá-la a quem veio para aqui triste e embriagado e agora já só está embriagado”. Agradecendo ao público e ao coro “mais bonitos” que encontrou, até ao momento, nos festivais por que passou, preparou o final da atuação com ‘Hunger’, saindo e regressando pouco depois para um encore curto e direto ao assunto: primeiro, a frenética ‘Shake It Out’; depois, o clássico ‘Rabbit Heart (Raise it Up)’. “Adoramo-vos. Vocês agora fazem parte do culto de Florence + The Machine”.