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Rock in Rio Lisboa: o amor é assim, pelo menos para os HMB (e para muita gente no Parque da Bela Vista)

O coletivo soul/funk de Héber Marques teve para si o público mais numeroso de um concerto de abertura do maior palco do Rock in Rio Lisboa este ano. Visivelmente empolgados pela receptividade do público, os HMB não desaproveitaram a ocasião, colocando desde cedo a multidão do seu lado

Nunca se pode falar de concerto que se 'ganha' à partida, muito menos quando a tarefa é abrir um palco gigante onde, mais adiante, outras forças se erguerão, mas tamanha multidão defronte do palco Mundo do Rock in Rio às 5 da tarde de domingo dificilmente poderia estar enganada.

Com um ginasticado combo soul-funk, a Héber Marques Band (ou HMB, como as gigante iniciais plasmadas em palco puderam atestar) soube corresponder aos anseios de uma multidão considerável (este sábado, à mesma hora, eram muito menos os que se juntaram para ver os ingleses Bush), com fome de dar início a uma tarde-noite-madrugada onde os sons mais 'urbanos' - este é o dia 'jovem' do Rock in Rio Lisboa 2022 - serão predominantes.

Se a ideia era começar em ambiente dengoso (como em 'Peito') mas firmemente funk, então o maior concorrente dos Expensive Soul no 'campeonato nacional' está mais do que habilitado para fazer a festa, juntando em palco uma 'família numerosa' de 9 elementos (formação-base, dupla de metais, coro) com o funk no corpo e a soul - perdoe-se a redundância - na alma.

Como diriam os próprios antes de 'O Amor É Assim', a expectável despedida de um concerto soalheiro e completamente ajustado ao 'slot' horário em que se realizou, "é assim que sentimos, é assim que entregamos". Para tais intenções concorre uma postura permanentemente positiva (HMB lida em torno da superação, não sobre as dores da incapacidade) e uma assinatura autocelebratória (o nome da banda é bastas vezes ostentado, fazendo da sua simples evocação uma espécie de grito de paz), que resulta num domínio fácil da plateia, rápida a reagir a canções como 'A Chapa Tá Quente' e 'Cdqp' (isto é, 'Culpa de Quem Pariu').

Os HMB canalizam sempre um funk guloso, crescido nos 70s, nutrificado nos 80s, tal como reapropriado por - não vamos mais longe - Bruno Mars, mas juntam-lhe um espírito comunitário que o hedonismo original talvez não contemplasse de forma óbvia. Medindo reações (e as letras de Marques estiveram na ponta da língua), o triunfo foi evidente.