A pop de Ellie Goulding não é a mais convencional. Nos últimos doze anos, a artista britânica foi-se afirmando com êxitos pontuais, mas nunca deixou de ser uma estrela hesitante, que não recorre a coreografias bem estudadas ou demasiado fogo de artifício para se fazer notar. O maior sucesso do seu percurso, ‘Love Me Like You Do’, foi fortemente impulsionado pelo facto de integrar a banda sonora do filme “As Cinquenta Sombras de Grey” e tirando ‘Burn’, do já longínquo ano de 2013, só quando se aliou ao produtor e DJ Calvin Harris conseguiu chegar mais alto nas tabelas de singles mundiais.
Neste regresso a Portugal, depois de um concerto de fraca memória no MEO Sudoeste, em 2014, foi-lhe dada a oportunidade de enfrentar o Parque da Bela Vista entre uma prestação muito celebrada do furacão Ivete Sangalo e antes da atuação dos cabeças-de-cartaz Black Eyed Peas. Tentou agarrá-la, mas talvez não o tenha feito da melhor forma, decidindo mostrar logo a abrir algumas das canções do mais recente álbum, “Brightest Blue”, de 2020, e deixando aquelas por que os fãs ocasionais mais estariam à espera para o segundo momento da sua atuação. Comunicativa q.b. e acompanhada por um coro seguro e um baterista possante, Goulding sentiu o peso de um palco demasiado grande para si, apesar de nunca se ter mostrado intimidada, e chegou mesmo a agradecer ao público por abraçar as suas novas canções.
“Só quero dizer o quão profundamente feliz estou por ver-vos a todos”, atirou, depois de entregar temas como ‘Worry About Me’, ‘Power’ ou ‘How Deep is Too Deep’ e antes de abrandar o ritmo com ‘Bleach’, uma canção “sobre querer apagar alguém que nos magoou muito”. A apatia que se fazia sentir entre o público começou a quebrar com ‘Hate Me’, dueto com o malogrado Juice WRLD, e uma intensa ‘Powerful’, colaboração com Major Lazer, mas foi quando se ouviram as batidas que Calvin Harris criou para ‘Outside’ e ‘I Need Your Love’ que a festa chegou ao pico. Na reta final da atuação, Goulding serviu uma sequência de começou bem com ‘Anything Could Happen’, seguiu momentos mais tarde com ‘Love Me Like You Do’, acompanhada por um coro volumoso, e terminou com as já velhinhas ‘Lights’ e ‘Burn’.