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Rock in Rio Lisboa: para os Linda Martini todo o palco é um bom palco, mesmo que o festival seja para gente deitada

Perante uma plateia dividida entre os que estavam ali para vê-los e não arredaram pé e aqueles que provavelmente não sabiam quem eles eram e nem sequer se mantiveram de pé, os Linda Martini provaram, mais uma vez, que não há palcos nem demasiado pequenos nem grandes demais para a sua música

O Rock in Rio Lisboa orgulha-se de ser um festival aberto a todos e isso reflete-se, sempre se refletiu, na escolha dos artistas que sobem aos vários palcos. Contudo, talvez pela forma como se tornou um festival tendencialmente familiar, não deixa de ser com alguma estranheza que o nosso cérebro tenta processar a descarga sónica dos Linda Martini ao mesmo tempo que, olhando em volta, vemos crianças praticamente de colo ou pessoas deitadas em redes no meio das árvores que emolduram o palco Galp Music Valley. Com novo álbum para apresentar, a banda elencou alguns dos momentos mais inescapáveis de “ERRÔR” e aquelas canções que, ao longo das duas últimas décadas se tornaram verdadeiros hinos entre os fãs que já extravasam gerações.

Bem no início, ‘Horário de Verão’ cruza com ‘Boca de Sal’ e o pé no acelerador encontra ecos na agitação que se vive junto ao palco, com tentativas de mosh pit a agradecerem o facto de a banda nunca comprometer a força do seu som. “Boa tarde. Nós somos os Linda Martini”, apresenta o baterista Hélio Morais, “é bom tocarmos quase em casa. Já tocámos para muita gente em pé, para muita gente sentada, mas é a primeira vez que tocamos para gente deitada. Espero que se divirtam”. Falámos de hinos e há um que se tornou, há muito, um marco no percurso do grupo: quando se ouvem os acordes de ‘Amor Combate’ a energia da plateia redobra, incitada pela guitarra supersónica de Rui Carvalho, que se juntou à banda em palco depois da saída de Pedro Geraldes.

Os contratempos, e houve um par deles, são enfrentados com naturalidade. “Não sei tocar esta música neste momento”, diz a baixista Cláudia Guerreiro enquanto tenta encontrar o tempo certo de ‘Rádio Comercial’, um dos momentos mais intensos do novo disco. “A Rádio Comercial não nos ouve, não nos escuta. Esta era boa para eles passarem”, provoca o vocalista André Henriques, no final. ‘Super Fixe’ traz raiva e exorcismo, ‘Putos Bons’ e a nova ‘Festa da Expiação’ uma bem-vinda introspeção e a soberba ‘Não Me Continuem’ uma percussão tão forte que Morais se vê em apuros. “Desculpem lá, estava entusiasmado”.

Momentos mais tarde, ouvimo-lo, novamente, a complementar uma politicamente carregada ‘E Não Sobrou Ninguém’ com a mensagem mais forte da noite: “Esta canção fala sobre o crescimento de um certo extremismo. Neste momento, temos doze fascistas no parlamento. É muito importante que não nos calemos. Procurem cuidar uns dos outros”. Já no sprint final, os Linda Martini servem ainda a raiva incontida de “Ratos”, a aspereza de “Taxonomia” e a encerrar, como manda a tradição, a velhinha ‘Cem Metros Sereia’ - exigindo a habitual, mesmo que algo tímida, troca de versos com o público. Aquilo que os Linda Martini fizeram no final de tarde deste primeiro dia de Rock in Rio foi provar, mais uma vez, que não sabem dar maus concertos, sejam quais forem as condições ou tenham quem tiverem à sua frente.