Blitz

NOS Primavera Sound: Rita Vian escrevia canções "atrás da porta do quarto", agora partilha-as perante o "carinho inigualável" do Porto

O segundo dia de NOS Primavera Sound começou com as canções personalizadas de Rita Vian, entre o fado, a eletrónica e a música do (seu) mundo

A primeira vez que ouvimos falar de Rita Vian foi no Posto Emissor, podcast da BLITZ, com Manel Cruz como convidado. E quando um dos mais originais escritores de canções do país elogia a escrita de alguém, nós acreditamos e vamos ouvir. O 'piropo' do músico portuense aconteceu numa altura em que a jovem artista tinha apenas um single lançado; desde então, partilhou um EP de cinco canções, de título "Caos'a", e o burburinho em sua volta só tem crescido. Não de forma avassaladora, mas com a parcimónia que a jovem aplica às suas histórias, que habitam um cruzamento bem personalizado de lirismo/fantasia e quotidiano/realidade.

Acompanhada por um músico, no palco Binance, Rita Vian enfrentou com confiança uma plateia atenta, partilhando com ela o seu universo, que tem pontos de contacto com os de outras novas estimulantes criadoras nacionais, como A Garota Não ou Chica.

Tal como Pedro Mafama, que ontem abriu o palco NOS, a mulher de 'Purga' já foi feliz no Primavera Sound, enquanto espectadora, e voltou agora ao Parque da Cidade para, de voz segura, pintar as suas vinhetas com recurso a pinceladas de eletrónica, fado e músicas "do mundo", destacando-se os misteriosos aromas árabes.

"Eu acredito que as ideias são o nosso futuro", afirmou, antes de agradecer ao Porto pelo "carinho inigualável" com que acolheu canções como 'Sereia', que escreveu "atrás da porta" do seu quarto, antes de as lançar ao mundo.

Um dos momentos mais bonitos do concerto, e do próprio festival, aconteceu porém quando Rita Vian dispensou o instrumental pré-gravado sobre o qual cantou, sentando-se na beira do palco e entoando uma música tradicional que os seus avós interpretavam, habitualmente, em dueto. Com as faces rosadas pelo sol intenso deste segundo dia de festival, a plateia deixou-se maravilhar pelo poder e pela beleza da sua voz, assim desacompanhada mas nada desprotegida.

Com uma discreta teatralidade, Rita Vian navegou com elegância até ao final da atuação, despedindo-se com a bela 'Trago' e a maravilhosa frase "Tenho a cara toda exposta só de sonhar que estás lá". Começou bem, o dia.