Quando Moullinex e Xinobi entraram em palco neste último dia da primeira edição do Sónar Lisboa, já a sala do Pavilhão Carlos Lopes começava a compor-se para a noite. Com um set assente nalguns dos melhores momentos dos seus últimos trabalhos, a dupla fundadora da editora Discotexas soube puxar mais e mais público para a pista de dança. O arranque foi certeiro, com uma guinada hipnótica aplicada a ‘Amor Cego’, tema retirado de “Balsame”, álbum que Xinobi editou na passada sexta-feira, a marcar o tom para aquilo que se seguiria. E o que se seguiu foi um ziguezague entre o catálogo dos dois músicos, ora empurrando para a frente todo o poderio das batidas cardíacas de ‘Hope/Dope’, que em 2019 juntou Moullinex à voz de trovão do angolano Nástio Mosquito, ora a remistura disco que Xinobi fez de ‘Bielzinho / Bielzinho’ dos brasileiros O Terno.
As cordas dramáticas de ‘Inner Child’ e o balanço crepuscular de ‘Minina di Céu’, com Sara Tavares, ambas retiradas de “Requiem for Empathy”, o mais recente longa-duração de Moullinex e uma viagem pelo catálogo do parceiro, com paragens numa pulsante ‘Far Away Place’ e no spoken word de ‘Searching For’, ajudaram a compor um set que não deixou pés descansados. Sem se coibir de ir adensando as batidas até atingir um final apoteótico, a dupla abandonou o palco deixando a ressoar nas paredes do pavilhão uma remistura do clássico de Lena d’Água ‘Sempre Que o Amor Me Quiser’. No cruzamento com as máquinas, o que sai quer das mãos de Moullinex quer das de Xinobi é música fundamentalmente humana, vibrante, cheia de emoção, cor e força. E isso não está ao alcance de todos aqueles que se posicionam atrás de uma mesa de mistura.