Quando Eu.clides decidiu seguir o seu próprio caminho, depois de emprestar a guitarra a projetos de outros artistas (incluindo Mayra Andrade), fê-lo apostando numa mescla de sonoridades que não só refletem as suas raízes cabo-verdianas e o seu gosto pelo R&B como o colocam naquela linha nada ténue que, habitualmente, separa ambientes acústicos e território abertamente eletrónico. E foi precisamente essa belíssima proposta que levou ao palco neste último dia de Sónar Lisboa, não se deixando intimidar pelo facto de o Pavilhão Carlos Lopes estar longe da sua capacidade total e aproveitando para oferecer uma atuação intimista, guiada pela sua voz-bálsamo e virtuosismos de guitarra que deixaram a plateia rendida.
Abrindo com uma versão amaciada de ‘Volte-Face’, canção criada em parceria com Pedro da Linha - que, curiosamente, saíra de palco momentos antes - para o Festival da Canção do ano passado, Eu.clides cedo ganhou o balanço certo. Entre batidas envolventes e melodias exóticas, recuperou os dois temas com que se apresentou ao público, em 2020: primeiro uma “simbólica” ‘Terra-Mãe’, depois a gingona ‘Ira Para Quê?’. Pelo meio, debruçou-se sobre as canções do EP “Reservado”, agarrando o público com a efervescência de 'Tubarão-Azul’ e ‘Morto-Vivo’ e o intimismo de ‘Desmancha-Prazeres’ e ‘Meia-Luz’, mas serviu também alguns temas novos, como um ‘Venham Mais 7’ que diz ser o seu próximo single e uma balada de arranjos minimalistas que deixou a plateia pelo beicinho.