Uma das máximas mais poéticas e frequentemente verdadeiras da cultura popular postula que "a realidade supera sempre a ficção". De facto, uma história de realização como a de Filipe Andrade poderia soar a argumento de filme. Mas não. Aconteceu mesmo e teve o seu ponto de partida há 15 anos, na margem sul, e culminou com uma chegada inesperada à meca da banda desenhada, a Marvel.
Desde cedo que a paixão pelas histórias aos quadradinhos já consumia Filipe Andrade que, contudo, tinha acesso muito reduzido ao imenso mundo de super-heróis que povoa esse universo: "No quiosque da minha zona não havia praticamente nada, só uns álbuns do Tio Patinhas e, de vez em quando, um ou outro do Batman. Só quando comecei a descobri as lojas BD de Lisboa é que me apercebi do muito que havia e do quanto gostava daquele mundo", explica ao Quero Estudar Melhor.
Aos 12 anos tirou um curso de banda desenhada e passou os próximos "cinco ou seis anos" a procurar melhorar a sua técnica e aprender o mais possível. Após tirar o curso de escultura na Faculdade de Belas-Artes, em Lisboa, participou ainda em escrita criativa e ilustração editorial. Acabaria por partir para os EUA, onde continuou a trabalhar o mais arduamente possível para se distinguir no competitivo meio até chegar a sua oportunidade.
"Em 2007 exibi o meu católogo de trabalho num festival de banda-desenhada em Lisboa e entrei em contacto com Cb Cebulski, um caça-talentos da Marvel que demonstrou algum interesse. Nos dois anos seguintes fui mostrando as minhas criações em diferentes festivais para chamar atenção até que, em 2009, voltei a encontrar o caça-talentos que acabou por me levar a colaborar. Não caiu do céu", defende Filipe Andrade.
Nestes quatro anos em que colaborou com a Marvel, já ilustrou inúmeras histórias e, como a série de livros Nomad e Onslaught bem como a personagens bem conhecidas como John Carter, Captain Marvel ou Iron Man. É um trabalho que descreve como "muito bom, mas stressante" uma vez que cada obra exige um calendário apertado e intenso. Ainda assim, concede que faz "tudo parte da experiência".
Alargar horizontes
Além do trabalho para a gigante norte-americana, Filipe Andrade tem realizado outros projetos dos quais destaca a colaboração com artistas locais num festival na Polónia em que Portugal foi o país convidado, um trabalho desenvolvido para o canal norte-americano Nickolodeon e uma colaboração com uma galeria de arte em São Francisco.
Um dos mais signficativos foi a colaboração com a Porto Business School para criar currículos em banda desenhada para os finalistas deste ano do Magellan MBA e transformá-los em super-heróis com poderes que vão desde a criatividade ao trabalho em equipa. Juntos formam a Magellan League, num conceito que se revelou um grande desafio para o ilustrador conseguir dar uma identidade forte e com paralelos à realidade.
Algo que se pode complicar ainda mais com estudantes estrangeiros: " quando foi altura de uma aluna japonesa me dar o feedback, disse-me que desenhei para ela uma figura com um fato chinês, algo que nós teríamos dificuldade em reparar, mas que para eles faz toda a diferença", conta divertido. O resultado do projeto deixou-o satisfeito, com "reações muito positivas" por parte de todos os envolvidos.
Desde há quatro anos a passar o seu tempo dividido entre Portugal e EUA, Filipe quer agora começar a apostar também na Ásia e a encontrar projetos naquela área do globo. Até janeiro diz ter "dois livros para fazer" e revela ter o objetivo de alargar os seus horizontes e poder trabalhar em áreas como animação, teatro ou a 'sétima arte', tendo já realizado mesmo nos EUA um curso de pré-produção de cinema. Tudo, porque mais que o rótulo talvez demasiado redutor de ilustrador, é um "contador de histórias".
Veja o vídeo de apresentação da Magellan League: