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Vítor Pereira. "Para ganhar ao Benfica, é fazer o que eu fazia"

Antigo treinador do FC Porto explica-nos o que esperar do Zenit, de Villas-Boas, e do Benfica, de Jesus, antes do jogo da Champions que pode selar o destino de ambos na competição.

Este é o treinador português que ajoelhou Jesus e esteve ao lado de Villas-Boas
Reuters/Charles Platiau

Pedro Candeias

As contas são o que são e não há outra forma de interpretá-las: André Villas-Boas é um problema para Jorge Jesus e Jorge Jesus uma solução para André Villas-Boas. Contabilizemos: em oito jogos disputados entre ambos, Jesuus ganhou três, dois deles quando estava no Benfica e Villas-Boas na Académica (4-0 e 3-2, em 2009-10), e perdeu cinco, último dos quais em casa diante do Zenit (0-2).

Esta quarta-feira, em São Petersburgo (17h, SportTV1), um e outro voltam a defrontar-se num encontro em que se decide a continuidade na Liga dos Campeões para ambos: se o Benfica perder, acabou-se o sonho dos 'oitavos' de Jesus; e se o Zenit for derrotado por mais do que dois golos de diferença, a Gazprom terá uma conversinha com André Villas-Boas.

E nós conversámos com Vítor Pereira, que foi adjunto de Villas-Boas e teve as suas batalhas com Jorge Jesus para tentar perceber uma coisa ou outra sobre futebol. Foi isto que ele nos disse.

Como se ganha ao André Villas-Boas e ao Jorge Jesus?

Boa pergunta essa (risos)! Mas antes de lá ir deixe-me dizer-lhe umas coisas primeiro. Vou começar pelo que vi no Benfica-Zenit da Luz: acho que o André surpreendeu estrategicamente o Jorge porque entrou com uma pressão muito alta, apertando-o logo à saída de bola do Benfica, sem dar tempo para fazer o jogo deles. Aproveitou o espaço que o Benfica dá, entre o central e o lateral, e com um futebolista como o Hulk (1-0, aos 5 minutos) a situação é logo outra. E depois, com a expulsão do Benfica, tudo se complicou e não percebemos o que valem as duas equipas, 11 contra 11.

O que tem o Benfica de fazer para ganhar ao Zenit?

É assim... No último jogo do Benfica, com o Moreirense, vi muita qualidade nos primeiros 20, 30 minutos da equipa do Jesus. Funcionou ofensivamente como um bloco, a reagir muito bem à perda da bola e a fazer muito bem a transição defensiva e a pressionar alto. Só que isso aconteceu contra... o Moreirense. Depois, o Benfica entrou naquelas acelerações constantes e o jogo partiu-se: contra-ataque para um lado e contra-ataque para o outro. E perdeu o controlo. O Benfica tem de perceber melhor os momentos e escolher as alturas em que faz transições rápidas ou aquelas em que sai com bola. É verdade que o Jesus tem jogadores que aceleram o jogo de uma forma extraordinária, que com dois ou três toques estão na baliza adversária. Mas terá de escolher melhor.

Como é que o Zenit vai jogar?

Acho que o Zenit vai ter mais bola e isso pode ser bom para o Benfica se conseguir aproveitar os espaços para as transições ofensivas rápidas. Agora, já o disse, não pode cair no erro de partir o jogo de contra-ataque para um lado e contra-ataque para o outro. Porque, aí, tudo se torna imprevisível.

Agora, pode dizer-nos como se ganha ao Benfica

(risos) Para ganhar ao Benfica é fazer o que eu fiz: ter bola, um posicionamento equilibrado, pressionar à saída da bola, não deixar que o Benfica acelere o jogo e se o deixar que seja para sítios onde saibamos que não causa perigo. A reação à perda da bola também tem de ser agressiva.

O histórico entre o André Villas-Boas e o Jorge Jesus não é famoso para o treinador do Benfica. Isso conta?

À medida que vais defrontando uma equipa vais conhecendo-a melhor e o André ganhou mais do que perdeu e portanto tem esse capital de confiança que lhe vem dos resultados. Portanto, ele poderá estar mais confortável, embora eu não sinta este Zenit muito confortável: tanto pode ser primeiro como último do Grupo. Agora, o que eu acho é que um treinador tem de transmitir uma ideia.

Uma ideia?

Sim, uma ideia e tem de transmiti-la com confiança. Por exemplo, se andas meses a trabalhar uma identidade de jogo não a vais adulterar por causa de um jogo - isso é um erro tremendo. Pode ajustar a estratégia, mas nunca aquilo que és.

Era isso que o André fazia? Puxava pelo lado emocional?

Nestes jogos grandes faz-se o contrário, porque temos de ter controlo emocional mais do que tudo. Nos jogos contra equipas menores é que temos acordar os jogadores, sacudi-los (risos) porque podem estar meio adormecidos.