Sousa Cintra até nem tinha um jeito particular para o futebol mas as eleições de 1989 mostraram que exibia outro dom: sabia fintar. E foi isso que fez, antes e durante mais uma campanha eleitoral que animou o Sporting - sobretudo os adeptos mais jovens - e que terminou com a vitória inequívoca do 'empresário das águas', em junho.
Preocupados com a situação do clube após um ano de vigência de Jorge Gonçalves (além do fracasso desportivo, o passivo aumentou ainda mais do que nas piores expectativas), um grupo de sócios 'notáveis', o 'Grupo dos Cinco', encontrava-se de forma regular para encontrar uma solução que permitisse criar uma certa unanimidade.
Pedro Santana Lopes, um dos participantes, era apontado como o putativo candidato num convénio que tinha ainda José Roquette, João Rocha, Carlos Monjardino e João Justino. No entanto, Sousa Cintra furou as contas - queria Santana Lopes para a Assembleia Geral e José Roquette para o Conselho Fiscal mas seria sempre o líder. O político fartou-se, o empresário avançou.
Com o desgaste de Jorge Gonçalves e a pouca influência de Miguel Catela, António Simões, do Braz&Braz, voltou a ser o candidato que mais rivalizava com o favorito mas o destino acabou por ser o mesmo - perdeu. A vida empresarial e o estilo de Cintra, numa linguagem muito 'terra à terra', acabou por convencer o eleitorado leonino, que 'entupiu' mais do que uma vez a Praça do Saldanha, onde se situava a sede de campanha.
Os resultados finais só foram conhecidos de madrugada mas, já antes, e com as urnas ainda abertas (votaram 15.299 sócios), as rádios avançaram com o triunfo categórico de Sousa Cintra. Confirmou-se: 63,6%, contra 24,9% de António Simões, 10,1% de Jorge Gonçalves e 1,3% de Miguel Catela.
Mas, antes da entrada no pavilhão do novo líder, ainda se gerou alguma confusão entre os adeptos, que queriam ir celebrar no interior do recinto. O empresário lá acabou por subir ao palanque para o discurso da praxe. Foi a derradeira eleição com mais do que um candidato até... 2006.