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O Benfica já não é a pior equipa da Champions

O empate com o Mónaco deu o primeiro ponto à equipa de Jesus que partiu para a 3.ª jornada no fundo do poço europeu.

Lisandro foi expulso e o plano encarnado ruiu
Reuters

Querido diário,

Hoje, às 19h45 deste dia 22 de outubro, percebo que o Benfica é a pior equipa da Liga dos Campeões: tem duas derrotas, cinco golos sofridos e um marcado, zero pontos. E digo-te mais, querido diário. Digo-te, por exemplo, que, como o Benfica, só vejo (mal) o longínguo Ludgorets, que também tem duas derrotas mas quatro golos sofridos e dois marcados. Acontece que o Benfica perdeu com o Zenit (0-2) e o Bayer Leverkusen (1-3), enquanto que o Ludgorets foi batido pelo Real Madrid (1-2) e pelo Liverpool (1-2). E, como tu sabes, comparar os russos do gás e os alemães da aspirina com o doce merengue e os reds do norte de Inglaterra é como pôr lado a lado um zero e um quinze, o número de Taças dos Campeões que está entre estes dois grupos.

Portanto - e agora que o jogo contra o Mónaco já arrancou - a coisa precisa de ser emendada. Porque o Benfica, que o seu presidente um dia sonhou querer ver na final da Liga dos Campões (lembras-te disso?), vale mais do que zero pontos. Alías, tem de valer mais do que zero porque há uma história a defender e é isso que Jesus quer mostrar em França. Até porque o contexto joga a favor dele.

O futebol tem coisas inexplicáveis (e tu bem sabes) e uma delas é o Mónaco, que investiu 178 milhões no ano passado e este ano desinvestiu quase tudo. Tem Moutinho, sim senhor, e também o senhor Ricardo Carvalho, mas não há James nem Falcao - a propósito, há um brasileiro chamado Fabinho que tem contrato com o Rio Ave pelo qual nunca jogou (também sabias desta?). E, continuando no capítulo dos fenómenos, o Mónaco, que é um clube de príncipes, joga num relvado plebeu (e diz-me que estás a ver o mesmo que eu) cheio de buracos, que acaba de ajudar o Benfica neste remate de Ocampos.

Tudo isto (já percebeste onde quero chegar) diz-nos que o Mónaco, que apenas tem cinco vitórias em 12 jogos oficiais, é uma equipa acessível ao Benfica. Resta saber a que Benfica. Se o da Liga dos Campeões se o do campeonato.

Porque o que vejo daqui, pela televisão, é o Benfica que jogou com o Zenit e com o Bayer de Leverkusen: nervoso, intranquilo, a falhar nas marcações, sem ritmo e intensidade que lhe valham. É estranho, não é? "É", dir-me-ás tu, porque o Benfica até está com os melhores em campo: o Enzo, o Gaitán, o Lima, o Talisca, o Luisão, o Maxi, o Eliseu. Espera, eu disse Eliseu? Pois.

É pelo lado dele que nascem os ataques do Mónaco nesta primeira-parte, porque o luso-cabo-verdiano nascido nos Açores dá muito o flanco e demora a fazer inversão de marcha. E tudo o que consigo dizer de bem por agora (para além de que o Ricardo Carvalho está aí para as curvas) é aquele cruzamento do Talisca que o Lima quase concretizou. Ponto final.

 

Lisandro e Jardel

Agora que são 20h45 e uns pozinhos mais, acredito que o Benfica terá tendência para melhorar. Já todos ouvimos dizer (até tu) que o Jesus é um desatino no balneário, que não desiste até os jogadores perceberem o que ele quer. Normalmente, pede-lhes que baixem quando o adversário vem sozinho com a bola ou que o apertem se ele vem acompanhado. Parece simples, não parece?, mas quem sou eu para garantir que é.

A verdade é que o Benfica apareceu agora melhorzinho, mais ligado e perigoso, com Enzo a lavrar terreno e Salvio e Gaitán, enfim, a chegarem-se à linha ou a Lima. Se houver um golo, parece-me, ele cairá para o lado dos encarnados que encarrilaram ao som dos seus adeptos que são mais do que os locais (mais um fenómeno monegasco, querido diário). Mas, como em tudo na vida, no futebol também nada é cem por cento seguro. Nem mesmo um nome sólido como o de Lisandro López, que talvez todos tenhamos sobrevalorizado - para já - porque o associamos ao outro Lisandro López (aposto que tu também). Mas não nos podemos esquecer que este Lisandro López é suplente deste Jardel, que também fica a dever muito ao outro Jardel que nunca nos sairá da cabeça. (E que cabeça tinha aquele, recordas-te?)

Ora, Lisandro foi expulso e o plano encarnado ruiu. Está escrito algures que dificilmente uma equipa que quer ganhar com 10 derrotará outra que não quer perder com 11; o mais natural, nesses casos, é tudo acabar empatado, como acabou o Mónaco-Benfica.

P.S. Querido diário, fiz as contas e o Benfica já não é a pior equipa da Champions. Está entre as piores, com o Anderlecht, Galatasaray, CSKA Moscovo, Sporting e Athletic Bilbao. O Ludgorets, vê lá tu, ganhou ao Basileia do Paulo Sousa.