De fundos de investimento, transmissões televisivas, novas contratações, formatos de competição a patrocínios, o Expresso analisa à lupa o Campeonato Brasileiro de Futebol.
O Brasileirão, ou o campeonato que consagra o campeão brasileiro absoluto, tem início marcado para o dia 8 de Maio. Por esta altura, disputam-se os dezanove estaduais. Os mais conhecidos? O Paulistão e o Carioca.
O contingente paulista faz-se representar pelo Santos, São Paulo, Palmeiras e Corinthians (estes dois últimos conhecidos como os italianos). A equipa onde brilhou Pelé comanda, após 14 rodadas, o campeonato estadual paulista.
O exército carioca responde com o Mengão - ou o Flamengo, campeão Brasileiro em título e que se orgulha de ter a maior base de adeptos do Mundo - o Fluminense, o Botafogo e o regressado Vasco da Gama, vencedor da Série B na época transacta.
O Clube de Regatas Flamengo, fundado para disputas de remo em 1895, lidera o Grupo A da Taça Rio, o estadual carioca. O Botafogo vai na frente do Grupo B e no próximo dia 28 há derby da zona Sul na "cidade maravilhosa".
Há ainda outro estadual que tem dado cartas no país do "futebol e carnaval". Falamos do Gauchão, também dividido em dois grupos, ou 'chaves'. Na Chave 1, encontramos o Internacional no comando. Na Chave 2, um desconhecido S. José de Porto Alegre partilha o primeiro posto com o Grémio.
Competitividade proveniente do Rio Grande do Sul
O Brasileirão deve um acréscimo de competitividade ao estadual do Rio Grande do Sul, que tem "clubes fortes, casos do Grémio, Internacional e do Cruzeiro". Estes intrometeram-se entre a disputa paulista e carioca devido ao "modelo dos pontos corridos, recentemente adoptado no campeonato brasileiro", afirma Freitas Lobo.
"Não havia muitas oportunidades para os clubes menores. Com o desaparecimento do modelo por grupos, a eliminar, ao estilo das competições europeias, surgiram outras equipas capazes de lutar pelo título". Foi o berço do Brasileirão nos moldes actuais, corria o ano de 2003, era Campeão do Mundo de Selecções... o Brasil.
O último vencedor do extinto 'Campeonato Brasileiro - Série A' foi o Santos, que derrotou o rival paulista Corinthians a duas mãos (5-2). Um ano depois, o primeiro título do Brasileirão fugia para Belo Horizonte, com o Cruzeiro a fazer época memorável (cerca de 100 pontos em 46 jogos, já que em ano 'experimental' o campeonato acolheu vinte e quatro equipas).
Vinte equipas, trinta e quatro jornadas
Hoje jogam vinte equipas em trinta e quatro jornadas. Existem quatro vagas para a Copa Libertadores (a Champions League do hemisfério sul), oito para a Sulamericana (equivalente à Euro League) e quatro onde nenhuma equipa deseja terminar, a chamada zona de rebaixamento.
Para o comentador português, a reformatação do campeonato "aumentou a competitividade, logo, o futebol tornou-se mais apelativo".
Basta olhar para o Brasileirão da época passada. Na última jornada, não houve máquinas de calcular que chegassem para os responsáveis do Flamengo, Internacional e do São Paulo. Por último, sorriram os cariocas com o nono título do seu historial.
Já outros cariocas estiveram perto de chorar, ficando um ponto acima da linha de água. Falamos do Fluminense. Que ficou a um ponto de outro clube do Rio, o Botafogo. Ambos estiveram na corda bomba, mas mantêm-se no principal escalão.
Este ano espera-se igual competitividade num campeonato de emoções fortes. O futebol de dez dos vinte e seis estados do Brasil vai ser posto à prova.
Freitas Lobo é fã do futebol paulista
Luís Freitas Lobo é fã confesso do futebol paulista pois considera-o mais evoluído: "o futebol carioca é mais atractivo porque tem mais fintas. O paulista para mim faz o balanço perfeito entre a criatividade típica dos brasileiros com um rigor táctico invulgar no futebol sul-americano".
Já que falamos de táctica, falemos de treinadores. Não há nenhum técnico estrangeiro a trabalhar no Brasil. Porquê? "Acho que é o que falta para o futebol daquele país. Ideias novas. Alguém que inove, traga outra mentalidade. O que não falta no Brasil é matéria-prima para excelentes equipas".
É precisamente a matéria-prima que tem ajudado o Brasil a impôr-se na economia mundial. O país respira saúde financeira e, por consequência, os clubes de futebol apresentam estabilidade, podendo arriscar no mercado internacional, algo contra-natura para um Futebol tendencialmente exportador.
Robinho de volta ao Brasil
Veja-se o caso de Robinho. "Um jogador que vive acima do seu clube no Brasil e que na Europa não sentiu o mesmo", na opinião de Freitas Lobo. Está de regresso ao Santos, por empréstimo do Manchester City. Quer apenas minutos para se mostrar a Dunga?
Freitas Lobo não tem dúvidas: "Claro que a imprensa brasileira vai 'empurrá-lo' para o Mundial. Ser um ídolo da torcida de um clube no Brasil não é como ser um símbolo de um grande clube europeu. Ali é o Robinho e mais dez. Isso faz com que os brasileiros retornados ao seu futebol se sintam confortáveis, em casa. Porque na Europa não chegam a este patamar de idolatração".
O comentador acha que, em termos televisivos, o futebol brasileiro é um excelente produto de exportação: "a própria cobertura jornalística é única no Mundo, os jogadores são entrevistados em pleno relvado, antes, no intervalo, e depois dos jogos".
"Há várias particularidades, algumas curiosas, como vários jogos dos estaduais onde os adeptos invadem o campo... antes do começo. Chegam a atrasar meia-hora o início do jogo!", conta.
E a violência, no relvado ou nos próprios estádios, tantas vezes transmitida nas televisões no lugar de resumos de jogos de cartaz do Brasileirão, por exemplo?
"A notícia já não é só essa. Isso depende das nossas televisões. Eu, pessoalmente, acho o campeonato argentino mais violento. É uma competição bem mais perigosa e bem menos apelativa a novos patrocinadores", garante.
Fundos de investimento
Freitas Lobo desenvolve o tema e refere um ponto que tentámos não perder de vista, no meio do emergente e mais competitivo futebol praticado no país que vai receber, nos próximos seis anos, duas competições de peso: o Campeonato do Mundo de Futebol (2014) e os Jogos Olímpicos (2016).
Falamos dos fundos de investimento: "É lamentável, mas no Brasil, onde encontramos talento debaixo de pedras, há clubes que vivem deles. Funcionam como plataformas giratórias. Os Ipatingas, os Corinthians Alagoanos, de onde partiu o nosso Deco..."
"História mal contada..."
"Eu olho para o Lulinha do Estoril, 19 anos, falei dele há dois anos no Mundial de sub-17... Onde é que o Estoril-Praia tem condições para ir comprar uma promessa do Corinthians?!", insurge-se.
O jovem avançado não é caso isolado em Portugal, que aproveita as novas possibilidades de um mercado onde nem tudo é claro entre clubes, empresários e atletas.
"Não viste o Tiago Luís, que entrou no final do jogo Benfica-Leiria? Pois eu vi-o, seis quilos mais gordo, ali perdido, ele que também esteve nesse Mundial sub-17. Óbvio que há ali muita história mal contada..." sugere.
Ainda assim, o futebol do país irmão apresenta-se de cara lavada. Porém, não há bela sem senão: "Os clubes ainda têm a mania de comprar veteranos. O Marcelinho Paraíba. O Juninho Paulista, enfim...". E estrangeiros?
"É sabido que no Brasil só resultou o Petkovic. É um intocável. Ele que andou pelo Real Madrid. Encontrou consolo no Flamengo!"
Show de bola
Com excelentes assistências nos Estádios - "é raro ver jogos com menos de vinte, trinta mil pessoas" - com novos reforços - o mais sonante será Robinho, o mais surpreendente talvez Vágner Love -, equipas mais competitivas e uma Selecção pujante e democrática - Dunga carimbou o passaporte antes da hora para a África do Sul e deu oportunidade a vários jogadores do Brasileirão de jogarem pelo escrete - os clubes brasileiros jogam hoje um campeonato mais atractivo e apetecível para os fãs de futebol de todo o Mundo.
Eis a lista das vinte equipas que vão disputar o Brasileirão 2010:
- Atlético (Minas Gerais)
- Atlético (Paraná)
- Atlético (Goiás)
- Avaí (Santa Catarina)
- Botafogo (Rio de Janeiro)
- Ceará (Ceará)
- Corinthians (São Paulo)
- Cruzeiro (Rio Grande do Sul)
- Flamengo (Rio de Janeiro)
- Fluminense (Rio de Janeiro)
- Goiás
- Grémio (Rio Grande do Sul)
- Barueri (São Paulo)
- Guarani (São Paulo)
- Internacional (Rio Grande do Sul)
- Palmeiras (São Paulo)
- Santos (São Paulo)
- São Paulo
- Vasco da Gama (Rio de Janeiro)
- Vitória (Bahia)