ARQUIVO Festivais 2010

O "blockbuster" Sudoeste começa hoje

A temporada festivaleira chega hoje à Zambujeira do Mar para o ' blockbuster' Sudoeste. Clique aqui para ver os vídeos dos festivais no canal Sugestões Culturais

Jorge Manuel Lopes (www.expresso.pt)

O Festival Sudoeste de 2010 prossegue a experiência, que até há poucos anos seria considerada lunática, de colocar à disposição da maior plateia dos eventos de verão um programa musical praticamente sem vestígios de rock. De quarta feira 4 a domingo 8, a Zambujeira do Mar vai ouvir um bolo feito de bastante eletrónica de dança e ainda mais reggae, além de pop e de soul-funk.

A noite de 4 é a da tradicional receção a quem vai acampar para o Sudoeste e, sendo branda no volume de propostas, ataca os músculos com um cacho de DJ nacionais e com a dupla belga de baralhação sonora 2ManyDJs. Na quinta 5, aí sim, é que os quatros palcos do festival ligam os motores. No espaço maior vão estar os Flaming Lips, que já deram concertos de um certo maravilhamento em solo nacional mas cujo rock psicadélico anda falho de imaginação há quase uma década - algo que não se alterou com a recente e lógica recriação integral de "The Dark Side of the Moon", dos Pink Floyd. Segue-se M.I.A., cujo modus operandi de sempre - provocação pela inanição, e com apreciáveis resultados mediáticos - meteu quarta a fundo com o novo álbum "Maya". Há quem a veja como a esteta diletante que é para este tempo o que David Bowie foi para os anos 70 e Beck e Madonna para a década de 90, absorvendo os impulsos sonoros e sociais que a rodeiam e devolvendo-os num idioma pessoal; e há quem a veja como uma formidável fraude, tão nula a cantar como a debitar 'ideias' para a imprensa. Neste palco, a noite fecha com a superlativa dupla tecno-pop-electro Groove Armada, cujo registo de 2010, "Black Light", eufórico e futurista, merece mais atenção do que a que teve. Nos outros palcos vale a pena reparar na desarmante pop africana dos The Very Best e no reggae escorreito e harmonioso dos veteranos Israel Vibration.

A banda sonora de sexta 6 no palco principal tem a forma de uma sanduíche em que apenas as fatias de pão fazem bem à saúde. O recheio, esse, é um composto polido, inócuo e muito popular de canções para embalar o autorrádio (Colbie Caillat, James Morrison) e funk virtuoso mas desmaiado (Jamiroquai). É nos extremos, então, que se encontra a virtude: os Expensive Soul abrem a sessão com a sua incrível máquina meio psicadélica de soul, R&B, hip-hop e funk (a mesma máquina que faz do recente "Utopia" o mais brilhante longa-duração português desde "Black Diamond", dos Buraka Som Sistema), enquanto o encerramento da noite está por conta dos Orelha Negra, a superbanda que inclui Sam the Kid a brincar com o funk e a memória vinílica. Uma memória partilhada com DJ Shadow, nome estimado dos anos 90 que passa na sexta por um dos espaços secundários, tal como o reggae acetinado e com pepitas de R&B do ótimo Jah Cure e a auspiciosa festa dub dos ingleses Zion Train.

Texto publicado na edição do Expresso de 31 de julho de 2010