Sábado, 25 de Abril
Militar de perfil espartano e nobre, representante da arma de Cavalaria na Comissão Coordenadora do clandestino Movimento das Forças Armadas, a ele se deve uma parte essencial do êxito do golpe de 25 de Abril de 1974. Pela sua pertinácia e forma de tratar com os seus homens, Maia formou sem resistências a coluna de carros de combate decisiva para a vitória do movimento insurgente. Apesar de ter sido sob as suas ordens que os ministérios da ditadura foram cercados, apesar de ter sido ele que levou à rendição, por cerco, do Governo marcelista, a verdade é que (como ele impunha sempre e gostava de ouvir dizer) foi um grupo coeso e decidido que teve o engenho e a arte de sublevar-se e de vencer - e não apenas um homem, fosse qual fosse. Mas também não é justo que não se lembre este cidadão que, fardado, sempre entendeu que após o golpe de força e conquista do poder devia regressar ao quartel e recusar mordomias. E tem sido por demais menosprezado, exactamente porque cumpriu a função a que se dispusera e depois remeteu-se à simples postura de cidadão. Sabemos que a sua figura representa, por excelência, o que de melhor houve no grupo revolucionário que permitiu que "o estado a que as coisas chegaram", naquela Primavera de 74, passasse simplesmente à História. Nos 35 anos do 25 de Abril, dois filmes falam dele: "No Dia em Que Salgueiro Maia Saiu à Rua", o primeiro da série "No Dia em Que...", realizado por José Carlos de Oliveira (Marginal Filmes), passa na RTP1 (00h15); a RTP Memória apresenta "Retratos Contemporâneos - Salgueiro Maia", às 21h. Este no meio de uma programação de luxo, do ponto de vista da História. Recomendamos que esteja atento à grelha apresentada abaixo. E tenha um bom 25 de Abril, falando das recordações de uma data única na História de um povo.
Domingo, 26 de Abril
O National Geographic Channel conseguiu autorização para filmar no interior da prisão da base naval incrustada na ilha de Cuba. E diz que tem como objectivo principal mostrar uma visão imparcial do mais que controverso local. Ver para crer. A graça toda parte do facto de o documentário ter sido realizado antes de as autoridades americanas divulgarem documentação e fazerem confissões devastadoras sobre o que alguns ainda insistem em apresentar como o símbolo da luta indómita dos EUA contra o terrorismo. Porque é que há uma base americana em Cuba? São 112 km2 de território concedido, em 1903, em troca de pouco mais de 4000 dólares anuais. Castro tentou a devolução, mas os utentes desprezaram a sugestão. O dinheiro da renda nunca foi utilizado, e os subúrbios da base são os derradeiros terrenos minados que há no Ocidente. Com a eleição de Obama, Castro renovou o desejo de que a base fosse restituída. Às 20h.
O Arte apresenta uma noite temática sobre a condição de ser cego. Primeiro (19h45) com uma ficção realizada por Martin Brest, com Al Pacino no protagonista: "O Tempo de Um Fim-de-Semana". Depois (22h15) com um documentário sobre uma expedição ao Tibete em que oito jovens cegos se lançam ao assalto de uma montanha de 7000 metros.
"Peggy Sue Casou-se" é uma obra de Coppola que faz uma mulher (Kathleen Turner, ele é Nicolas Cage) que está prestes a divorciar-se regredir no tempo, à época do noivado, com a possibilidade de decidir se casa ou não com o prometido de quem está agora prestes a separar-se. Teve três indicações para os Óscares. No TVC4, às 16h05.
Segunda-Feira, 27 de Abril
O vaso de guerra da Marinha do Czar, pertencente à Frota do Mar Negro, foi palco de uma revolta histórica, em Junho de 1905, devido às más condições em que os marinheiros eram obrigados a viver a bordo. Revolta e barco de guerra foram tópico de um filme de Sergei Eisenstein que durante muito tempo encimou as listas de "Melhor Filme" da história do cinema. Depois, foram feitas críticas sobre a veracidade dos factos narrados, mas hoje chegou-se a acordo que eles são, no essencial, respeitados. De qualquer forma, e sempre, eis um dos grandes filmes da cinematografia mundial. No Canal Arte, às 22h30.
A viagem é proposta pelo canal Odisseia (22h). As recordações, as lembranças são bens apreciados pelo ser humano. Como é que funciona realmente a memória? Uma história empolgante que vai do útero da mãe até às falhas do adulto e à morte.
A belga, nascida em 1960, estudou na MUDRA, de Bruxelas, e é um dos expoentes da dança mundial. Para dar corpo e expressão às suas ideias, constituiu a Companhia Rosas, com a qual vem actuando e ganhando cada vez mais notoriedade. A Rosas comemorou 20 anos de actividade com uma série de coreografias inspiradas em músicas de grandes mestres que a Mezzo recorda hoje às 16h.
Terça-Feira, 28 de Abril
O escritor, já famoso pelas suas obras um pouco por todo o mundo, morreu a 31 de Julho de 1944. Aos 39 anos, velho para integrar os esquadrões de caças na II Guerra Mundial - mas um dos pilotos mais carismáticos da Aéropostale, o serviço de correio para Casablanca e Dacar - ofereceu-se para uma unidade de reconhecimento das Forças da França Livre. Durante uma missão, o seu avião desapareceu no Mediterrâneo sem deixar rasto. Num dia chuvoso de Setembro de 1998, os homens do arrastão "L'Horrizon" colheram mais do que peixe e crustáceos: agarrada às redes veio a pulseira de prata do escritor. O que teria acontecido ao avião e ao piloto? Estaríamos perto de sabê-lo? É sobre as buscas empreendidas por Henri Delause, pioneiro do mergulho industrial, que se debruça o documentário hoje apresentado, às 20h, no Canal de História.
Dois filmes sobre o tema - no canal Arte, a partir das 21h40 - abordam regimes ditatoriais e a resistência dos seus cidadãos. Primeiro, a Bielorrússia e os músicos militantes, com um rock patriótico e bem agressivo. Depois (22h30), histórias de jovens chinesas, 20 anos após os acontecimentos da Praça de Tiananmen.
Possibilidade de ouvir as sinfonias de Beethoven, todas de seguida, em duas sessões. Hoje, com início às 20h30, as primeiras quatro. Amanhã, à mesma hora, as restantes. Ouça logo a primeira - com o seu andante cantabile con moto, ou o movimento final - e ficará rendido.
Quarta-Feira, 29 de Abril
Nova grelha. Às 20h50, outra temporada de "A Grande Família", onde Nanini, Marieta Severo, Mauri Filho, Andrea Beltrão, Pedro Cardoso e Guta Stresser são figuras de uma família brasileira no extremo da caricatura.
Slimane deixa o estaleiro para investir num velho barco e transformá-lo num restaurante de especialidades magrebinas. Todos são contra. Só a enteada, Rym, apoia. Os dois vão enfrentar os obstáculos. Naco da verdadeira história da França pós-colonial, eis a farinha do filme de Abdelatif Kechiche, sensível e observador. Ganhou Veneza, os Césares e o Prémio Louis Delluc. A erótica dança do ventre da excelente Hafsia Herzi (Rym) fica na história dos momentos mais sensuais do cinema. TVC2, 21h30.
Ka de canto, Bu de dança, Ki de habilidade. Este género teatral nipónico caracteriza-se pela estilização do drama e a elaborada máscara de maquilhagem. Remonta ao século XVII e parodia temas religiosos através de grande carga sensual. Inicialmente, as mulheres intervinham, o que foi proibido em 1629. De então para cá, os papéis femininos são interpretados por homens. Os pormenores da sua génese são narrados num documentário no Odisseia às 15h.
Quinta-Feira, 30 de Abril
Não há dúvida que dali vem este "Dogville", filme primeiro da trilogia desenhada pelo realizador Lars Von Trier sobre a América, "EUA, Terra de Oportunidades", que foi ele quem motivou esse manifesto cinematográfico que decidia princípios de filmagem restritivos e purificadores da gramática do cinema. Não é um filme experimental, mas é bom advertir que as dez partes que o compõem são iluminadas de forma paradoxal, e a câmara, à mão, tem movimentos inusitados, recusando a tradição. A banda sonora, ou a ausência dela, é outra surpresa, e os cenários estão reduzidos à ínfima expressão, muitas vezes limitados a traços no chão, tudo valorizando o papel dos actores. Nicole Kidman, Harriet Andersson, Lauren Bacall, Paul Bettany, John Hurt, James Caan fazem o resto. TVC3, 22h.
O compositor americano (1898-1937) tem, por conta de algumas das suas obras, um recital no Mezzo (21h10). Com Ira, o irmão mais velho, letrista, compôs para a Broadway, a par dos trabalhos de composição clássica. Várias das suas músicas granjearam grande sucesso popular, e as grandes vozes de entre os anos 40 e 60 (e até Sting) cantaram-nas. "Lady Be Good" É deles. "Of Thee I Sing", que ganhou um Pulitzer, também. Como a ópera-folk "Porgy and Bess". E "Rapsody in Blue" (1924). E tantos êxitos mais.
Pedro I (1672-1725), moderno no gosto, clarividente nas aspirações, estratega militar, visionário. Pedro, o Grande, viveu em perigo (havia dois pretendentes ao trono), mas modernizou a Rússia, introduzindo conceitos novos, da navegação à medicina, motivando especialistas a instalarem-se na Corte. Canal de História, 20h.