Henry Kissinger, o poderoso secretário de Estado dos EUA, e Melo Antunes, o ministro dos Negócios Estrangeiros durante o PREC, combinaram estabelecer um contacto directo, à margem dos canais diplomáticos. Por proposta do militar português, esse canal foi o seu próprio chefe de gabinete, Gonçalves da Costa. Actualmente coronel na reforma, Gonçalves da Costa, de 69 anos, confirmou ao Expresso o seu papel de "pombo correio" entre os dois governantes, bem como do embaixador dos EUA em Lisboa, Frank Carlucci. Durante o golpe de 25 de Novembro de 1975, responsáveis de Washington chegaram a telefonar por duas vezes para Gonçalves da Costa, para se inteirarem do que se estava realmente a passar. Foram também os serviços de Kissinger que alertaram para o facto do movimento de extrema-direita MDLP ter decidido, numa reunião em Madrid, condenar à morte Melo Antunes. Alertado pelos americanos, o autor do Programa do MFA e do "documento dos nove" passou a andar protegido por dois guarda-costas. Gonçalves da Costa confirmou ainda o compromisso entre Melo Antunes e Álvaro Cunhal nas vésperas do 25 de Novembro, por forma a evitar um confronto militar. Discutido entre os dois em casa de Nuno Brederode Santos, esse acordo levou a que o PCP tivesse ficado quieto durante o 25 de Novembro e evitou eventuais retaliações de quadros comunistas, designadamente das Forças Armadas.

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