Lusofonia

Demitida direcção do hospital onde morreram 22 bebés

Falha médica ou falta de equipamentos são as principais suspeitas do Ministério Público que abriu um inquérito para investigar o caso do hospital Santa Casa de Misericórdia, no Estado do Pará.

Maria Luiza Rolim

Ainda não estão apuradas as causas de morte de 22 recém-nascidos no Estado do Pará. Dois dos bebés, gémeos, faleceram ontem. Entretanto, os directores do hospital e o presidente da Fundação Santa Casa de Misericórdia, António Bentes de Oliveira, entregaram os cargos à governadora do Estado. Ana Júlia Carepa nomeou uma comissão para analisar os graves problemas do estabelecimento.

Falha médica ou falta de equipamentos são as principais suspeitas do Ministério Público, que abriu inquérito para investigar o caso que abalou o Brasil. Mas a secretária regional de Saúde, Laura Rosseti, afasta a hipótese de as mortes terem sido provocadas por infecção hospitalar.

No caso da morte dos gémeos, a mãe contou que há oito dias, grávida, deu entrada no hospital com fortes dores. Apesar de o médico que a atendeu ter sugerido parto por cesariana, a jovem de 18 anos acabou por ter alta. Entretanto, as dores agravaram-se, obrigando-a a retornar ao mesmo estabelecimento de saúde. Foi então submetida à cirurgia, mas os bebés já se encontravam sem vida.

Gestão a cargo de comissão provisória

A gestão da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará e do hospital foi entregue a uma comissão provisória multidisciplinar - composta por cinco médicos e três engenheiros - que está desde ontem a fazer o levantamento das condições físicas e operacionais do hospital.

O grupo - liderado pela coordenadora das Políticas Sociais do Governo do Estado, Sílvia Camaru - tem um prazo até amanhã para apresentar um relatório à Secretaria Regional de Saúde. Uma equipa do Ministério da Saúde deverá chegar amanhã à cidade de Belém, também no Estado do Pará, para inspeccionar as instalações do estabelecimento.

Segundo a secretária da Saúde, Laura Rosseti, o hospital debate-se com a falta de 70 médicos especializados, sobretudo obstetras e pediatras. A nova dirigente da Santa Casa de Misericórdia - que hoje assumiu o cargo - tem 'carta branca' para avançar com a ampliação do número de camas para gestantes e berçário para recém-nascidos, assim como o quadro médico.

Recém-nascidos dividem ventiladores

Desde há um ano que o Sindicato dos Médicos do Pará tem alertado para a morte de bebés neste hospital. Segundo o presidente, Luiz Sena, "tanto o Ministério Público como a direcção da Santa Casa já conheciam o problema", e nenhuma providência foi tomada.

Funcionários do hospital, por sua vez, admitiram que os bebés internados enfrentam risco de morte devido à sobrelotação e à falta de equipamentos. Até os ventiladores são divididos entre os recém-nascidos.