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Tropas russas entram a oeste da Geórgia

As tropas russas entram em novo território georgiano, numa zona não muito longe da Abkházia. Moscovo diz não às propostas da UE para uma trégua com a Geórgia na Ossétia do Sul.

A Rússia anunciou hoje à tarde a entrada de tropas russas no oeste da Geórgia, não muito longe da região separatista da Abkházia, pela primeira vez desde o início do conflito russo-georgiano há quatro dias.



Por outro lado, Serguei Ivanov, primeiro vice-primeiro-ministro russo, rejeitou hoje as três propostas da União Europeia (UE) para uma trégua com a Geórgia na Ossétia doSul e propôs que seja Tbilissi a negociar directamente com Tshkinvali e Sukhumi, capitais a Ossétia do Sul e da Abkhazia, respectivamente.



Falando à cadeia televisiva norte-americana CNN, Ivanov declarou que as três propostas e Bruxelas "não são um acordo de cessar-fogo".



Estas propostas - advogadas pelos chefes das diplomacias francesa (Bernard Kouchner) e finlandesa (Alexander Stubb) - passavam pela exigência do respeito pela integridade territorial georgiana, pelo fim imediato dos combates e pelo regresso ao 'statu quo' do dia 06, antes da guerra.



Segundo Kouchner, o presidente georgiano, Mikhail Saakachvili, "aceitou praticamente todas as propostas" da UE e da OSCE.



Saakachvili acusou hoje a Rússia de querer ocupar todo o país, enquanto Moscovo afirmava que a aviação e a artilharia de Tbilissi bombardeavam Tskhinvali.



O Ministério da Defesa russo anunciou a entrada de tropas russas perto de Senaki, no oeste da Geórgia, para impedir novos ataques de Tbilissi contra a Ossétia do Sul e as tropas de Moscovo.



Pouco depois, Tbilissi afirmava que forças russas tinham ocupado uma base militar georgiana em Senaki, cidade situada a mais de 150 quilómetros da Ossétia do Sul e a cerca de 50 de outra região separatista georgiana, a Abkházia.

Washington anunciou a partida de um emissário norte-americano, Matthew Bryza, para uma missão de mediação com a UE na região.

Numa curta declaração na Casa Branca, o presidente norte-americano exortou a Rússia a terminar a sua acção militar na Geórgia: "Invadiu um país soberano ameaçando um Governo democraticamente eleito. Tais actos são inaceitáveis no século XXI". Bush questionou as "intenções" do Kremlin na "região" alertando para o facto de que o conflito na Geórgia afecta seriamente as relações russas com a Europa e com os EUA.

G7 pedem cessar-fogo

Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 (países mais industrializados) exortaram Moscovo a "aceitar um cessar-fogo imediato".



O representante permanente da Rússia junto da NATO, Dmitri Rogozine, pediu à organização uma reunião extraordinária NATO/Rússia para terça-feira, acusando de "genocídio e de limpeza étnica" o presidente georgiana, que disse não ser já "um homem" com quem Moscovo possa "negociar".



Hoje de manhã, o presidente russo, Dmitri Medvedev, declarou que "uma grande parte da operação para obrigar a parte georgiana à paz na Ossétia do Sul (estava) terminada".

Assegurou que Tskhinvali estava sob controlo das "forças russas de manutenção da paz".



Medvedev declarou-se favorável ao destacamento de uma missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) na Ossétia do Sul devido à "catástrofe humanitária" na sequência da "agressão georgiana".



O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, acusou Washington de "criar dificuldades" às operações militares russas ao ajudar o repatriamento de militares georgianos do Iraque, denunciando o "cinismo" norte-americano e a sua "capacidade de apresentar o agressor como vítima de agressão".

Quatro aviões abatidos

Segundo o comando russo, as perdas na Ossétia do Sul ascendem até ao momento a 18 soldados mortos, 52 feridos e quatro aviões abatidos. Catorze militares estão desaparecidos.



De acordo com o presidente georgiano, entre "80 e 90" aviões militares russos foram abatidos e "centenas de soldados russos" mortos nos combates.



As autoridades ossetas informaram que hoje um avião de combate georgiano foi abatido perto de Tskhinvali.



Do lado georgiano, o aeroporto internacional, os subúrbios de Tbilissi, assim como as cidades de Gori, próxima da Ossétia do Sul, e de Poti, porto no mar Negro próximo de um terminal petrolífero, foram bombardeados pela aviação russa, segundo as autoridades da Geórgia. Alguns destes ataques foram confirmados por testemunhas.



"Os radares do aeroporto internacional de Tbilissi foram danificados ligeiramente", mas "o aeroporto continua a funcionar normalmente", de acordo com o Ministério do Interior.

Nove mil soldados para a Abkházia

A Rússia destacou 9 mil soldados suplementares para a república separatista pró-russa da Abkházia, que se juntam aos 2.500 soldados de manutenção da paz já no território, segundo um responsável do comando russo.



As tropas abkhazes afirmaram cercar as forças georgianas nos desfiladeiros de Kodori, única parte da Abkházia controlada por Tbilissi.



O comando russo na Abkházia pediu hoje de manhã aos combatentes georgianos que se encontram na zona para "entregarem as armas", um ultimato rejeitado pela Geórgia.

Primeiro avião com ajuda humanitária

O primeiro voo com ajuda humanitária do Alto Comissariado das Nações Unidas (ACNUR) para os Refugiados parte esta noite do Dubai para a Geórgia e leva 20 mil cobertores e outros artigos de assistência às vítimas do conflito, anunciou hoje a organização em comunicado

Segundo uma nota do ACNUR Brasil, o alto-comissário, o português António Guterres, também já disponibilizou dois milhões de dólares da reserva de emergência da agência para cobrir "as necessidades imediatas das vítimas do conflito".

"O ACNUR está preparado para fornecer assistência humanitária tanto à Geórgia quanto à Rússia assim que for solicitado", afirmou António Guterres. A agência da ONU para os refugiados está presente nos dois países, incluindo as regiões de Ossétia do Sul e Ossétia do Norte.

Um segundo voo está já a ser preparado para quarta-feira, devendo partir de Copenhaga, onde o ACNUR tem outro centro logístico. Ao todo, os dois voos levaram artigos suficientes para atender a mais de 30 mil pessoas.

Embora o número exacto de deslocados pelo conflito esteja ainda a ser compilado pelas autoridades governamentais, os últimos dados indicam que cerca de 30 mil pessoas provenientes da Ossétia do Sul permanecem na região da Ossétia do Norte.

Os relatos de movimentos de população dentro da própria Geórgia estão também a preocupar o ACNUR, tendo uma equipa da agência, que viajou até Gori, uma cidade que faz fronteira com a Ossétia do Sul, ouvido de oficiais locais que mais de 80 por cento dos moradores deixaram a cidade devido ao medo de novos ataques e partiram rumo à Tbilisi.

Durante o fim-de-semana, a agência da ONU para os refugiados e outras agências humanitárias assistiram aproximadamente 300 georgianos da Ossétia do Sul, incluindo mulheres e crianças, que foram levados de Gori para quartéis mais seguros em Tbilisi. O ACNUR, que possui seis escritórios e mais de 50 funcionários na Geórgia, também já disponibilizou tendas e outros artigos para seus parceiros em Gori.