A seca no Minho acaba de colocar à vista uma aldeia galega submersa desde 1992, depois da construção da barragem do Alto-Lindoso e com os antigos habitantes a regressarem, emocionados, para verem as antigas casas. Aceredo era uma pequena aldeia, com cerca de 40 casas e uma centena de habitantes. Em pleno vale do rio Lima e regada ainda pelo rio Calvo, vivia da agricultura, sobretudo das férteis vinhas que se erguiam encosta acima.
Mínimos históricos
A vida fazia-se junto a um rio que ainda há vinte anos corria com pouco mais de dez metros de largo. Hoje, com a albufeira do Alto-Lindoso em níveis mínimos históricos e oito meses sem chuva, o rio desceu quase ao seu leito normal, ao longo de vários quilómetros. Com isto, Aceredo, ou o que resta do povoado, voltou a ressurgir das águas e os seus habitantes começaram a regressar ao centro da aldeia, através de tortuosos e abandonados caminhos que calcorreiam sem hesitar.
É como se nunca tivessem saído.
Francisco Villalonga tem 61 anos e da casa onde morou com a família restam hoje os tijolos, derrubados e gastos pelos anos debaixo de água, além dos azulejos da sala onde se faziam as refeições. Até uma piscina, para os "rapazes novos", ainda se pode observar. "São coisas que recordam famílias que já não estão, tempos da infância, uma aldeia muito bonita e um povo muito unido. Se pudesse voltar para aqui, era já", explica à Agência Lusa, enquanto se senta nas escadas que antes serviam de acesso à casa. "Morei cá como rapaz, como pai de família, recordo a infância dos filhos e os familiares que se encontravam aqui, vinham de Madrid e Barcelona. Não era uma casa grande, mas cabiam todos", recorda, assumindo "saudade" do, agora, Aceredo "velho".
Aceredo novo
Aquando da construção da barragem do Alto-Lindoso, em Ponte da Barca, proprietários de terrenos e moradores de Aceredo e outras pequenas aldeias de Lobios, na província de Ourense, Galiza, foram indemnizados pela EDP pela subida das águas, em vários metros. Alguns moradores ficaram logo ali ao lado, em Aceredo "novo", onde todas as casas foram construídas de raiz. Serafim Gomes tem hoje 53 anos e partiu da aldeia antiga com cerca de trinta. "Tinha a minha vivenda, o meu táxi e oito cavalos", começa por recordar, enquanto observa as antigas paredes da escola da aldeia. "Bem ou mal vivia disto. Hoje não estou pior, mas é algo que levo dentro, que vou levar até à morte. A saudade", confessa, na primeira vez que regressa à aldeia desde 1998, outra grande seca vivida na região. "Lembro-me de andar por aqui, por estes caminhos, de ir ao leite. No verão era uma maravilha estar cá e consigo recordar como era tudo antes da barragem", garante.
Recordar o passado
Por entre pedras que marcavam as propriedades e os campos agrícolas, agora de novo visíveis, Francisco e Serafim encontram-se para recordar o passado. Com muita emoção pelo meio. "Lembras-te da casa do Diego? Era aquela, ali em cima", explicava Francisco, sempre com a memória mais fresca. Já Serafim retorquia: "Era aquela mesmo. Que tempos, homem".
Emoção da ponte
Ao fundo avistam uma das maiores surpresas reveladas pela descida das águas. Uma pequena ponte de cerca de 15 metros que servia para ligar a aldeia ao centro de Lobios. Construída em pedra e madeira, continua no mesmo local, intacta na estrutura. "Que emoção é ver isto de novo", desabafa Francisco, durante uma caminhada de duas horas por entre terras enlameadas e ao mesmo tempo secas, onde até os postes de eletricidade estão agora à vista, juntamente com as paredes das casas, em pedra. Até um antigo moinho, envolto em lama, a albufeira deixou a descoberto, por estes dias.
Veja as fotos da redescoberta da aldeia de Aceredo: