Foi a fábula da cigarra e da formiga revisitada. Há menos de um mês, havia uma vantagem de cerca de 20% nas sondagens. Por tradição, Massachusetts é liberal e reconhecido como um estado azul (cor do Partido democrata). Martha Coakley tinha o assento no Senado garantido. Em pleno Natal, fez uma pausa de duas semanas na campanha.
Ao mesmo tempo, o rival republicano Scott Brown vestia os agasalhos, fazia-se à estrada e enfrentava as temperaturas negativas de um dos invernos mais rigorosos dos últimos anos, persistindo no contacto com a população.
Quando a equipa de Coakley acordou (formada na maioria por ex-membros da campanha de Hillary Clinton), era tarde de mais. Ontem à noite, madrugada em Lisboa, Brown venceu com 52% dos votos e tornou-se o 41º republicano no Senado, quebrando a maioria democrata.
Algumas promessas de Obama podem ficar em risco, entre elas a reforma do sistema de saúde.
O Presidente americano tentou à última da hora dar uma mãozinha. No domingo, esteve em Boston, lado a lado com Martha Coakley.
Pediu aos americanos daquele estado que entendessem a importância do sufrágio e participassem. "Não há muito tempo, vocês deram uma contribuição decisiva para a mudança, com um trabalho incansável. Precisamos desse espírito novamente".
Numa outra mensagem, gravada na Casa Branca e posta no "site" da campanha democrata, Barack Obama alertou: "ao derrotarem Martha e substituírem Edward Kennedy por um republicano, os conservadores estarão em posição de bloquear o Senado".
No Estado de Massachusetts o sistema de saúde é universal. Um exemplo que Obama quer ver generalizado. "Seria irónico que fosse, precisamente, este estado a dar a primeira estocada na reforma de saúde", disse ontem à tarde, ao Expresso, o professor Ross Baker, ex-conselheiro de Harry Reid, o líder da bancada democrata no Senado.
Estudos de opinião revelam que a maioria dos americanos recusa o plano de reforma do sistema de saúde. Esse espírito de contestação pode ter vertido para esta campanha. "Os americanos não aguentam mais isto", desabafava, no domingo passado, ao Expresso, Tom Marabella, 49 anos, um imigrante italiano que partiu para este cantinho da América em 1979.
Nas presidências de Novembro de 2008, em Massachusetts, Barack Obama terminou com uma vantagem de 26% sobre John McCainn.
Desde que tomou posse, a sua taxa de popularidade baixou 18% - de 68 para 50 pontos percentuais.