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Lasanha é receita contra a crise

Com a crise come-se mais em casa. Nos supermercados, congelados e refeições prontas batem recordes.

Helder C. Martins

"Por acaso, a lasanha é um dos meus pratos favoritos. E em tempos de crise eu e o meu namorado preferimos jantar em casa, o que nos permite um outro à-vontade monetário para irmos depois a um concerto ou ao Bairro Alto", diz Cláudia Amaral. Afogueada, esta técnica de vendas de 32 anos fala ao Expresso num fim de tarde perto da arca onde está um produto de marca própria do Continente que é o campeão de crescimento: 135%, ou cerca de 100 mil embalagens vendidas em quatro meses, a €2,49.

O Pingo Doce apresenta outro caso de sucesso: vende dez mil refeições refrigeradas por dia a €2,49. O êxito de pratos que vão de rojões à minhota e arroz de pato ao risotto de cogumelos e ao caril com basmati, passando pelo bacalhau à Brás, é de tal ordem que para satisfazer a procura a empresa da Jerónimo Martins "só disponibiliza as refeições em 25% da sua rede", adiantou Eduardo Cid Correia , director-geral do Pingo Doce.

A crise está a levar os portugueses a mudar de hábitos e jantar fora é um dos primeiros luxos a serem reduzidos. Os restaurantes falam de quedas de facturação da ordem dos 35% e quem beneficia é a grande distribuição. Segundo a TNS Worldpanel, empresa líder mundial de estudos de mercado junto dos consumidores, a comida pronta na grande distribuição (frango assado, refeições refrigeradas e congeladas) cresceu 73,9% nos primeiros três meses do ano.

Outra tendência de racionalização do consumo é a preferência pelas chamadas 'marcas brancas' nos bens essenciais comprados em supermercados. "Em cada ¤100 de compras, 33 são aplicados em marcas da distribuição", salienta Paulo Caldeira, director de comunicação da TNS Worldpanel. A empresa recolhe os dados de um painel composto por 3 mil lares portugueses, dotados de um PDA que lê os códigos de barras das despesas dos agregados familiares.

"O sucesso da lasanha de marca própria é sustentado num crescimento geral das refeições e produtos congelados", diz o director de marketing da Modelo Continente, José Fortunato. Mas é também um esforço da marca Continente para dar soluções às famílias face à crise, acrescentou.

O responsável lembra que além dos tradicionais descontos de 50% em cartão, a empresa criou no início de Janeiro um cabaz de produtos básicos com preço fixo que, para uma família de quatro pessoas, permite poupar cerca de €58 por mês face ao ano passado. Refere, ainda, que no site do Continente  são disponibilizadas receitas para quatro pessoas a um euro por cabeça.

Mas o contexto de crise reflecte-se num forte aumento da procura de produtos básicos nos hipers e supermercados portugueses onde por exemplo, segundo a TNS , a carne congelada registou um crescimento de 42% nos primeiros três meses do ano. Congelados, conservas e ingredientes básicos (arroz, farinha e massas) registam no Continente crescimentos da procura da ordem dos 20%. A mesma tendência é confirmada pelo director-geral do Pingo Doce, Eduardo Cid Correia, cadeia de supermercados onde ovos, salsichas e legumes secos registaram, em Janeiro e Fevereiro aumentos de volume de 38%, 37% e 38% respectivamente. Além das refeições refrigeradas, existe também um forte aumento de frango assado.

Cuidado com o sal e a gordura é o alerta feito pelos especialistas em nutrição. "Os riscos que comportam as refeições congeladas ou pré-confeccionadas são genericamente um consumo exagerado de gordura e de sal. Embora existam muitas refeições equilibradas do ponto de vista nutricional", diz a presidente da Associação Portuguesa de Nutricionistas, Alexandra Bento. Refere que a lasanha não será o expoente máximo de equilíbrio nutricional, porém, não tem nada contra. "Não é a solução. Tem espaço num determinado dia mas não é um recurso alimentar. O preço é uma ilusão. Feito em casa fica sempre mais barato", acrescenta a nutricionista. Como exemplo, aponta as receitas que estão na APN, em que seis refeições têm um custo diário próximo dos €3 e preenche as necessidades de um adulto normal (2000 quilocalorias).

Experimentámos a lasanha: dá para duas doses, e com um reforço de mozzarella quase passa por feita em casa.

28,1%

É o aumento da procura de pão para cachorro e hambúrger no 1º trimestre, segundo a TNS

25,9%

É a percentagem de crescimento da venda de detergentes para a louça

26%

É a quebra no consumo de limpa-vidros

Texto publicado na edição do Expresso de 16 de Maio de 2009