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Guia médico desaconselha medicamentos para a gripe

Alguns dos mais publicitados medicamentos contra gripes e constipações surgem como "não recomendados" no Prontuário Terapêutico destinado aos médicos.

"Não se recomenda o seu uso" é a frase que consta no Prontuário Terapêutico, o guia utilizado pelos médicos, em referência a uma dezena de medicamentos habitualmente usados para estados gripais e constipações, como Ilvico, Antigrippine, Cêgripe ou Griponal.

Segundo a autoridade da farmácia e do medicamento, Infarmed , os peritos que elaboram o Prontuário Terapêutico não recomendam esses medicamentos pois consideram que "há no mercado alternativas mais adequadas".

"Esta referência não significa que o medicamento não possa ser utilizado, que ele constitua qualquer problema para a saúde pública ou tenha de ser retirado do mercado", explicou o Infarmed.

A maioria dos medicamentos publicitados para combater gripes ou constipações são combinações de paracetamol (que alivia a dor e a febre) com outras substâncias activas, como cafeína, ácido ascórbico ou codeína.

Walter Osswal, um peritos que participou na elaboração do guia médico, explicou que quando uma substância activa é eficaz deve ser usada isoladamente e não em associação.

"É um princípio geral de terapêutica que, quando temos medicamentos eficazes, eles devem ser usados isoladamente. Com combinações de substâncias activas aumenta-se o risco de reacções adversas e não se ganha nada com isso. Muitas vezes as doses são também insuficientes, porque não cabem num comprimido", sustentou Walter Osswal.

Questionado sobre a razão para esses fármacos estarem ainda no mercado, este responsável respondeu que o Infarmed "não é uma agência terapêutica" e que só são retirados do mercado medicamentos perigoso e claramente ineficazes, o que não é o caso.

Para a Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral, deve ter-se "muita precaução" no uso de medicamentos de associação, compostos por mais do que uma substância activa.

"Os medicamentos de associação têm de facto mais efeitos secundários e também são mais complicados do que o paracetamol simples", declarou Eduardo Mendes, vice-presidente da associação, explicando que neste tipo de fármacos "não se controlam as dosagens" e "os tempos de eliminação (do organismo) são diferentes".