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GNR cria linha telefónica de apoio disponível 24 horas por dia

Associação profissional não acredita que a linha resolva o problema, dizendo que o que tem de mudar é o "tratamento desumano" que sofrem os guardas. Só este ano já se suicidaram cinco militares.

Valentina Marcelino

Um texto manuscrito pelo comandante-geral da GNR, Mourato Nunes, começa a mensagem que se destaca no panfleto, distribuído a todo o efectivo, a anunciar a criação da linha de apoio. O ''abraço'' pessoal com que termina a mensagem, mostra o empenho ao mais ao mais alto nível numa questão que está a preocupar profundamente a hierarquia da GNR.

O motivo não é para menos. Só este ano já se suicidaram cinco militares da guarda, mais do dobro do ano passado. O número é o maior de sempre. Em 2005 foram quatro, em 2004 foram dois e em 2003 foram três.

"A Vida é um bem precioso. Tu mereces viver. Diz Não ao suicídio. Peça apoio." aconselha a brochura distribuída, onde estão os números de telefone que podem ser utilizados. Além do número verde 800 962 000, são também disponibilizados os telemóveis de cinco elementos, do Gabinete de Psicologia da GNR, para onde se pode ligar "a qualquer hora". Segundo o responsável deste departamento, Major Ilídio Canas, "foi feita uma escala e estará sempre alguém disponível a qualquer hora".

Este oficial diz que "não se consegue encontrar um ponto em comum nas motivações destes suicídios. As idades são diferentes, as localizações, os métodos usados. Não conseguimos chegar a conclusões sobre as causas. Há as pessoais, as económicas, as profissionais e um pouco de cada uma delas, nos casos analisados. Mas entendemos que um primeiro e fundamental passo é oferecer a nossa ajuda".

Em relação aos casos deste ano, as idades variaram entre os 26 e os 50 anos e as áreas geográficas "foram de norte a sul". O único ponto em comum é que eram todos praças.

O presidente da Associação de Profissionais da Guarda (APG), José Manageiro, está "muito céptico" em relação à eficácia deste apoio telefónico. "O problema na guarda, e que afectou certamente estes profissionais que tomaram a decisão de morrer, é muito mais profundo e prende-se com a desumanização da GNR". Este dirigente associativo, lembra "o tratamento desumano sofrido pelos profissionais, nomeadamente a carga horária, o afastamento das famílias por largos períodos de tempo e a vida de caserna a que são submetidos". Por isso, sublinha, "não é uma linha telefónica só por si a mudar esta realidade, que está na origem de tanto mau estar entre os profissionais".