A Espanha é o país da Europa onde as alterações climáticas mais se farão sentir. A previsão é de Al Gore e foi feita esta quinta-feira em Oviedo, onde se deslocou para receber o Prémio Príncipe das Astúrias da Cooperação Internacional. Galardoado igualmente com o Nobel da Paz deste ano, o ex-vice-presidente (durante oito anos) dos EUA justificou: "Os cientistas já mostraram que, em toda a Europa, as previsões apontam para que o maior aumento de temperatura ocorra em Espanha". As razões são várias e vão desde a localização da Península Ibérica, "muito no Sul da Europa", até "à grande massa de terra" existente no seu interior. A que se soma a crescente influência do "ar quente vindo do Norte de África, através do Mediterrâneo".
A falar em Espanha e a propósito de um prémio espanhol, Al Gore não falou sobre Portugal. Mas a lógica mais elementar, reforçada pela simples observação do mapa que exibiu, na mesma manhã, numa conferência em Gijon, apontam para que o aumento de temperatura não se fique por Espanha, devendo prolongar-se pelo interior-Sul de Portugal. Procurando ser optimista, o candidato derrotado por George Bush chamou a atenção para os benefícios relativos desta situação: "Com tanto sol e tanto vento, a Espanha é o país da Europa com melhores oportunidades para aproveitar as novas vantagens económicas na produção de energias renováveis".
"Não tenho planos para me candidatar"
Os poucos (quatro) jornalistas que tiveram tempo para fazer perguntas durante a conferência de Imprensa organizada pela Fundação Príncipe das Astúrias quiseram saber dos seus projectos políticos. A saber: se será candidato às próximas eleições presidenciais nos EUA. Das duas vezes em que a questão foi colocada, Al Gore começou a sua resposta rindo. E agradecendo a sugestão dada. Mas a resposta foi suficientemente clara: "Não tenho nenhum plano para me candidatar outra vez a cargos políticos". É certo que não afastou completamente essa hipótese no futuro, mas acentuou que tem intenção de "dedicar o meu tempo e a minha energia para tentar mudar a maneira como as pessoas pensam a crise climática, no meu próprio país e no resto do mundo". Porque, acentuou, "trata-se de uma crise global e de uma emergência planetária". Um outro jornalista sugeriu que haveria uma proximidade de Al Gore com o pré-candidato negro à Casa Branca, Barack Obama. Sem se pronunciar sobre o senador democrata do Illinois, Al Gore preferiu informar que "tenho tido numerosos contactos com a maior parte dos candidatos que pretendem apresentar-se às presidenciais, sobretudo do meu partido, mas também de outras áreas políticas".
Quanto às críticas que têm sido feitas às suas teses - muito popularizadas através do filme "Uma verdade Inconveniente" -, Al Gore sublinhou que "as suas bases científicas estão demonstradas". Em sua defesa, lembrou a posição recente do Painel Inter-Governamental sobre Mudanças Climáticas, considerada a instituição científica mais autorizada do planeta em matérias como o aquecimento global e que partilha com o próprio Al Gore o Nobel da Paz.
O crítico mais recente foi o líder do Partido Popular, o maior partido da oposição em Espanha, Mariano Rajoy, que esta semana acusou Al Gore de sobreavaliar as consequências das alterações climáticas e do aquecimento global. O ex-vice-presidente dos EUA não quis entrar em polémica directa, retomando o seu argumento já clássico, segundo o qual "este assunto ultrapassa a política e as ideologias, na medida em que é sobretudo uma questão ética e moral". Mas não deixou de ser arrasador para o líder da direita espanhola: "Seria uma loucura dizer que as alterações climáticas não têm nenhum impacto". E não resistiu a comparar os que insistem em negar a evidência aos que, muito poucos, mesmo após a viagem de Cristóvão Colombo e a descoberta da América, continuaram a sustentar a tese de que "a terra era plana..."
Após a rápida conferência de Imprensa, Al Gore foi até à cidade vizinha de Gijon, onde proferiu a conferência "Uma verdade Inconveniente" - que, já esta semana, apresentara em Maiorca e Barcelona. Sexta-feira, será a estrela principal da cerimónia de entrega dos Prémios Príncipe das Astúrias.