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Esculpir o corpo... sem bisturi

Há cada vez mais técnicas não invasivas que ajudam a combater os efeitos da idade.

Palmira Correia

Confunde-se muitas vezes lipoaspiração com lipoescultura. "Ambas as palavras podem ser usadas para a mesma coisa", explica o cirurgião geral Emílio Valls, acrescentando que a lipoescultura se desenvolveu como uma lipoaspiração mais avançada e surgiu para diferenciar uma cirurgia feita com uma cânula mais fina, com diferentes ângulos (incisões), e com o objectivo de ir "esculpindo progressivamente o corpo da mesma forma como trabalha um escultor". Na lipoaspiração tradicional, feita nos anos oitenta e início dos noventa, "a gordura era aspirada por cânulas grossas, inseridas em profundidade (pensava-se que a pele poderia ficar danificada), e o resultado era difícil de prever. Existia perda de sangue e eram frequentes as complicações", recorda o médico.

É ainda este cirurgião espanhol quem garante que praticamente todo o corpo pode ser operado com lipoescultura, sendo abdómen, nádegas e coxas, costas e braços as zonas de intervenção mais frequentes (também se pode reduzir joelhos e tornozelos e retirar o duplo queixo, questão que afecta particularmente as mulheres). Considerado o tratamento de eleição para a gordura localizada, tem ainda a vantagem de se fazer em regime ambulatório - após um descanso de 3 a 4 horas, a paciente regressa a casa.

Para quem apresenta depressões numa região corporal e excesso de gordura noutra pode recorrer ao lipofilling, que transplanta gordura para onde ela faz falta, uma intervenção que Emílio Valls apenas recomenda enquanto a pele tiver boa elasticidade e possibilidade de retrair de forma ideal no pós-operatório. "O lugar mais comum da aplicação é nas nádegas, deixando-as mais projectadas", remata.

Graças ao avanço dos equipamentos, as cânulas de sucção que há alguns anos chegavam a ter 12 mm de diâmetro, hoje têm cerca de 3-4 mm, o que torna as incisões menores e deixa marcas quase imperceptíveis. Antes e depois da lipoescultura, a pessoa deve perder peso, já que as formas ficarão melhor definidas em quem estiver mais próximo de seu peso ideal.

Nem todos os médicos adoptam a mesma terminologia. Para Abel Mesquita, lipoescultura é um termo relativamente incorrecto para definir a modelagem cirúrgica e não cirúrgica do contorno corporal: "Enquanto o escultor consegue dar a forma pretendida à sua obra de arte dependendo apenas da sua criatividade e talento, o cirurgião plástico consegue modelar o contorno corporal do seu paciente, mas está limitado pelas características anatómicas de cada um." Para este cirurgião plástico, é mais correcto falar de lipoaspiração de áreas corporais seleccionadas com vista a modelar o seu contorno. E há cuidados a ter também no pós-intervenção: "Aconselha-se drenagem linfática e tratamentos de Radiofrequência Unipolar (Accent) nos primeiros quatro meses, melhorando contorno e textura da pele."

Em casos de gorduras ligeiras, Abel Mesquita refere que poderá bastar um triplo tratamento: "Regime alimentar ligeiro para redução da massa gorda; Endermologie (LPG) para massagem da camada adiposa com alisamento das áreas celulíticas em 20 sessões (duas por semana durante 10 semanas); e Radiofrequência Unipolar em seis sessões clínicas - para reduzir gordura local com diminuição do volume dos adipócitos por aquecimento com ondas rádio através da pele sem qualquer anestesia nem cirurgia."

Já o cirurgião plástico João Anacleto é da opinião que lipoaspiração ou lipoescultura não são cirurgias de consultório. "Devem ser feitas em bloco operatório, com todas as condições para a realização de uma cirurgia", chamando naturalmente a atenção para o facto de haver médicos não especializados a operar sem condições. João Anacleto é o primeiro a afirmar que a lipoaspiração não é uma técnica perfeita mas os resultados são bons. "A lipoaspiração motiva a maioria das pessoas a adoptar um estilo de vida mais saudável, necessário para ajudar a manter os resultados das intervenções."

Este médico alerta para a gestão das expectativas neste tipo de intervenção - cujos preços, dependendo das zonas afectadas, variam entre 2.500 euros e 7.500 euros - referindo que aquelas devem ser realistas, pretendendo-se uma melhoria estética e não a "perfeição"!

Recuando no tempo, até à década de 70, o cirurgião plástico Ângelo Rebelo recorda as primeiras utilizações de cânulas e aspiradores (que eram usados nas interrupções de gravidez) para redução de gordura. Nos anos 80, o médico Pierre Fournier substituiu os aspiradores por seringas com cânulas mais finas. Diz Ângelo Rebelo: "Foi ele quem introduziu o termo lipoescultura, porque com a sua técnica passou a transferir a gordura de um lado para o outro."

É ainda no final dos anos 70 que aparece outra técnica, a lipoescultura ultra-sónica, que apenas destrói a gordura. Ângelo Rebelo, por exemplo, utiliza uma outra técnica na sua clínica, a vibroliposucção: "Aspiramos a gordura através dum sistema vibratório." O cirurgião refere outras técnicas mais recentes - ultra-sons, radiofrequência e laser - que considera menos eficazes.

Laser é, aliás, o método usado por Victor Junqueira na sua clínica. Recorrendo a uma anestesia local, o médico esculpe o corpo com um simples furinho de uma agulha de fibra óptica através da qual vai incidir a luz do laser. "Ao aquecer a gordura, esta liquefaz-se e, com movimentos de vaivém, fazemos desaparecer a gordura da zona pretendida." Este médico alerta para a utilização indevida desta técnica em clínicas de estética, defendendo que este é um tratamento exclusivamente médico. Assegura ainda que é uma técnica muito segura, até porque o risco anestésico é praticamente inexistente. "O laser Osyris permite visualizar a quantidade de calor que é transmitida através da pele. Se ficar muito tempo parado no mesmo local, o equipamento tem um dispositivo de segurança que o desliga automaticamente", sublinha.

Muito mais procurado por mulheres - na percentagem de cinco para um -, este é um tratamento que pode até complementar a lipoaspiração (os pacientes deverão sempre seguir uma dieta correcta e praticar exercício físico). Enquanto os homens se preocupam com a zona abdominal e com os flancos - os tais desagradáveis pneus - as mulheres dão mais importância às zonas interna e externa das coxas e também ao abdómen. Estes tratamentos oscilam entre os 1800 euros e os 5000 euros, dependendo da extensão da zona a tratar.

Texto publicado na edição do Expresso de 17 de Janeiro de 2009