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Cartoons anti-preconceito

Duas centenas de desenhos de humor de 29 países europeus usam o riso como arma para combater a discriminação e lutar contra as desigualdades.

O autocarro de vários andares tem de parar para deixar passar a caríssima e comprida limusina. Em cada um dos veículos, um passageiro diferente. No carrão, um magnata a ler o seu jornal. No transporte público, um negro da classe baixa, assustado com a injustiça que impera na sociedade. Discriminações de natureza racial, social, económica... várias leituras possíveis neste cartoon do belga Ludo Goderis, que venceu o Concurso Europeu de Cartoon, assim como nas duas centenas de desenhos que estão expostos na Estação do Rossio em Lisboa, até 22 de Novembro.

Sob o tema "Desigualdades, Discriminações e Preconceitos", a mostra apresenta os premiados, as menções honrosas e os melhores trabalhos do concurso europeu integrado no Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos. São cartoons que apontam a arma do sentido crítico a todo o tipo de discriminações, de preconceitos e estereótipos, que afectam milhares de pessoas diariamente pela violação dos seus direitos, pela não-aceitação da diversidade.

A entrada é livre e os visitantes da exposição irão encontrar em lugar de destaque no vestíbulo da estação os três trabalhos premiados - além do belga Ludo, vencedor do grande prémio, também foram contemplados o francês Napo (2.º prémio) e o turco Musa Gümüs (3.º prémio) -; as menções honrosas e os cartoons de autores portugueses - Portugal é o pais mais representado, com trabalhos de dezasseis autores. Em redor destes, estão distribuídos pelo espaço os desenhos enviados por artistas de outros 28 países europeus.

Uma arma para a consciência

O objectivo da exposição é "alertar a sociedade para a falta de oportunidades para todos, numa Europa de bons princípios e leis, mas ainda com muitas desigualdades, discriminações e preconceitos", de acordo com o comissário da mostra Luís Humberto Marcos, director do Museu Nacional da Imprensa, que promoveu o evento em parceria com o Instituto Nacional para a Reabilitação. "Em termos de consciência democrática ainda temos de trabalhar muito, para que possamos ter um outro clima de aceitação da diferença. Nós vivemos numa sociedade que nos educa muito para a normatividade, para o enquadramento dos indivíduos e comportamentos dentro de parâmetros ditos 'normais'. Mas a situação ideal é aquela em que se respeite e reconheça o direito à diferença", disse em conversa com o Expresso.

Para o responsável, o cartoonismo "é uma arma que nos ajuda a compreender melhor a sociedade, uma linguagem universal através da qual podemos passar imensas mensagens. É um instrumento forte que chama a atenção para os problemas que nos surgem no dia-a-dia e ajuda a que as pessoas tomem consciência do que está mal".

De Lisboa para o mundo

A organização pretende levar a exposição a outras cidades do país e do estrangeiro. "Vamos tentar fazer itinerância quer nacional quer internacional", afirma Marcos, sem no entanto avançar com o percurso que ela seguirá. "Ainda não está definido, mas estamos a tratar disso".

Por enquanto, o que se sabe é que a exposição vai continuar no Rossio até ao dia 22 de Novembro (de segunda a sexta-feira, das 12h às 20h, e aos fins-de-semana das 10h às 20h; entrada livre). Os trabalhos expostos foram todos compilados num livro bilingue (português e inglês) de 135 páginas, e que pode ser adquirido no local por €15.