Atualidade / Arquivo

Amoz Oz defende "Plano Marshall" para a Palestina

O escritor israelita e militante pacifista afirmou em Oviedo que os problemas do Médio Oriente só serão resolvidos quando houver dois estados independentes, Israel e Palestina, vivendo em paz e cooperação.

José Pedro Castanheira (texto) e Ana Baião (fotos), enviados a Oviedo

"A única solução para o Médio Oriente passa pela existência de dois Estados e pela construção de uma relação de paz e cooperação entre eles. Não há outra alternativa", disse esta terça-feira o escritor israelita Amos Oz, numa conferência de imprensa em Oviedo.

Amos Oz é o galardoado deste ano com o Prémio Príncipe de Astúrias de Letras, que vai ser entregue na próxima sexta-feira. O Prémio Príncipe de Astúrias é uma espécie de segundo Nobel e contempla oito áreas. O das Letras foi atribuído a Amos Oz, de 68 anos, que criticou "o fanatismo e o extremismo" quer do lado palestiniano, quer do lado israelita. O escritor não deixou de manifestar alguma esperança relativamente ao actual processo conduzido pelos presidentes de Israel e da Autoridade Palestiniana. "Estas talvez sejam as mais sérias tentativas desde há muitos anos", reconheceu.

Nascido em Jerusalém ainda sob domínio britânico, Amos Oz advertiu que não é possível "instalar a democracia em nenhum país através da força" e designadamente da força das espingardas. E defendeu o que chamou de "Plano Marshall" para a Palestina. Por outro lado, considerou desejável um cessar-fogo com o Hamas, mas revelou-se muito céptico sobre a sua possibilidade. "O Hamas é uma organização fanática e fundamentalista, orientada para a total destruição de Israel", acusou.

Romancista traduzido em mais de trinta línguas (entre as quais a portuguesa, publicado na Dom Quixote e na ASA), militante pacifista, intelectual comprometido, diz, no entanto, que procura não misturar literatura e política. "Divido o meu dia em duas partes distintas. De manhã, levanto-me às 5h e escrevo. Depois faço uma sesta e dedico-me à intervenção pública e política. Tenho sempre comigo duas canetas: uma azul e uma preta. Com a azul, escrevo as minhas histórias, sempre à mão. A outra é para escrever cartas, a mandar o Governo para o inferno... Nunca misturo as duas canetas".

Vencedores do Prémio Príncipe das Astúrias para a Investigação Científica e Técnica, Ginés Morata e Peter Lawrence (à dir.)

Uma pergunta difícil

O Prémio Príncipe de Astúrias para a Investigação Científica e Técnica foi atribuído ao britânico Peter Lawrence e ao espanhol Ginés Morata, especialistas na biologia do desenvolvimento. Também eles deram terça-feira uma conferência de imprensa, aproveitada pelos jornalistas para os questionar sobre as polémicas declarações do Prémio Nobel da Medicina em 1962, James Watson, sobre a alegada inferioridade dos negros em termos de inteligência. Reconhecendo ser uma pergunta "muito difícil", Morata acentuou que "as características dos seres humanos não dependem só da herança genética, mas de muitos outros factores, como a educação e a cultura, que modulam a capacidade intelectual". Lawrence concordou em absoluto com o colega espanhol e avaliou a componente genética do homem em 60%, enquanto o complemento cultural (no sentido amplo do termo) é de 40%. Os dois cientistas, no entanto, foram muito cuidadosos nas duas declarações, percebendo-se não estarem interessados em alimentar qualquer polémica com James Watson.

Os prémios vão ser entregues na próxima sexta-feira em Oviedo, a capital das Astúrias, pelo próprio príncipe Filipe, herdeiro do trono de Espanha. O prémio de maior ressonância pública é o da Cooperação Internacional, atribuído ao ex-vice presidente dos EUA, Al Gore. O das Artes vai para o cantor norte-americano Bob Dylan, mas ainda não está confirmada a sua presença. Para o prémio de Comunicação e Humanidades foram escolhidas as revistas científicas 'Science' e 'Nature'. Nas Ciências Sociais, o premiado é o sociólogo e economista alemão Ralf Dahrendorf. No Desporto, a distinção coube ao ex-campeoníssimo de fórmula 1 Michael Schumacher. Por fim, o Yad Vashem, Museu da Memória do Holocausto de Jerusalém, foi distinguido com o Prémio da Concórdia.