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Adeus Porto Covo

Alterações climáticas e conjuntura económica não têm ajudado à festa do décimo aniversário do Festival de Sines.

Jorge Lima Alves

A menor afluência de forasteiros, que tem estado a afectar todo litoral do país e muito em especial a Costa Alentejana, assim como um mau tempo invulgar para esta época do ano, têm prejudicado o Festival de Músicas do Mundo de Sines que este ano comemora dez anos de existência.

Como vem sendo hábito nas últimas edições, a primeira etapa do FMM (a sigla por que gosta de ser conhecido o evento) decorreu em Porto Covo, junto ao Porto de Pesca, nas noites de sexta, sábado e domingo.

Três concertos por noite, por apenas cinco euros, é uma proposta suficientemente aliciante para atrair todo o tipo de público, das gentes das redondezas aos citadinos de férias, para já não falar dos inúmeros estudantes para quem o Verão é sinónimo de festivais de música.

Três noites, portanto, e nove concertos que começam em geral por volta das dez da noite para terminarem já depois das duas da manhã, quando as famílias já se foram embora há muito representam uma verdadeira barrigada de música que, no entanto, até ao momento conheceu poucos momentos verdadeiramente inesquecíveis.

Danças Ocultas e Asha Bhosle fizeram a melhor noite 

O melhor do festival decorreu para já na noite de domingo, com as prestações dos portugueses Danças Ocultas, da cantora indiana Asha Bhosle e de um tributo ao recentemente desaparecido Andy Palacio que reuniu representantes da cultura garifuna do Belize e músicos hondurenhos).

Francamente interessante foi o concerto da banda belga Flat Earth Society, que se apresentou em Sines com o multi-instrumentista finlandês Jimi Tenor, cuja figura é uma mescla de Andy Wahrol, Austin Powers e também Sun Ra, este último influência maior desta orquestra belga fascinada, como Quentin Tarantino, pelas bandas sonoras dos filmes dos anos 70, praticando um jazz elitista que não seduziu a maior parte dos presentes.

A comovente cantora cabo-verdiana Hermínia podia ter brilhado mais se os arranjos das mornas e coladeiras que interpretou não fossem tão lineares. Também a prestação d'A Naifa foi algo prejudicada pela ausência de João Aguardela (por motivos de saúde).

Tanto Hermínia como A Naifa protagonizaram, contudo, momentos emocionantes e aprazíveis.

Finalmente, os norte-americanos Hazmat Modine e The Last Poets, assim como os italianos Enzo Avitabile & Bottari, revelaram-se decepcionantes. Os primeiros porque ao pretender fazer uma música total juntam mais influências do que conseguem dominar, os segundos porque a sua poesia militante soa hoje cruelmente anacrónica.

A fusão de influências que vão do jazz à música africana, passando pelo blues e as canções napolitanas com os tradicionais tocadores de barrica do Sul de Itália, tal como a pratica Enzo Avitabile, também não convenceu totalmente.

Esta noite, o Festival regressa Sines, mais concretamente ao Centro de Artes, com três novas propostas: Moscow Art Trio e La Còr de la Plana no Auditório e Danae no exterior.