Hugo Borges, agora major-general pára-quedista, estava lá, na zona de Guidage, a 23 de Maio de 1973. De repente viu-se metido numa emboscada com consequências terríveis para as tropas portuguesas. No final, onze jovens portugueses tinham perdido a vida. Poderá ser apenas mais um episódio de guerra. Neste caso, porém, como diz o então segundo tenente fuzileiro Abel Melo e Sousa, também presente nos combates daquele dia, "assistimos todos a um dos piores episódios da guerra, porque tinha havido já uma grande pressão no Sul, em Gadamael. Num mês morreram noventa militares portugueses".
Naquele início de Primavera de 1973, a guarnição militar de Guidage, no Norte da Guiné e muito próximo da fronteira com a República do Senegal, estava a ser submetida a intensos ataques do PAIGC e tinha necessidade absoluta de ser reabastecida. Em Março passado, quando se deslocou à Guiné, Hugo Borges teve a oportunidade de conversar com um oficial do PAIGC e ficou a saber que o assalto final a Guidage estava previsto precisamente para aquele dia 23 de Maio de 1973.
Borges recorda-se que a sua Companhia de Caçadores Pára-quedistas 121 (CCP121) fora destacada para escoltar uma coluna que seguia em direcção a Guidage. Tinham partido de Binta, na margem norte do rio Cacheu. Em dada altura é detectado um tipo de minas nunca antes identificadas na Guiné e logo ali morrem dois picadores do exército e um fuzileiro fica sem um pé e um olho. A coluna detém-se, mas a Companhia recebe instruções para continuar de forma a socorrer Guidage. Ora, é nessa altura que a CCP121, então comandada pelo tenente-general Almeida Martins, sofre uma emboscada na zona de Cufeu e tem de imediato quatro baixas. A situação é delicada porque, explica o então segundo comandante Borges, "quando estamos a fazer segurança a uma coluna, estamos condicionados. Facilitamos a identificação por parte do inimigo e por maiores que sejam as nossas movimentações na tentativa de enganar, eles vigiam-nos sempre com grande facilidade".
Para aquele ataque, o PAIGC dispunha de 300 guerrilheiros, enquanto do outro lado estavam perto de 100 portugueses. Os pára-quedistas pedem apoio aéreo e os "Fiat" permitem uma reacção dos pára-quedistas, cuja missão era assegurar a segurança da coluna e chegar a Guidage. Assim, a marcha prossegue com os "páras" a transportarem dois mortos e dois feridos graves, um dos quais, Manuel da Silva Peixoto, acaba por morrer pelo caminho, ainda antes de chegar ao aquartelamento. O outro ferido morreu mais tarde em Bissau.
Quando a CCP121 chega a Guidage passa a colaborar na defesa da guarnição, mas constata que há uma interdição aérea na região. O PAIGC abatera três aeronaves portuguesas na região. Aquela era a altura em que, explica Abel Melo e Sousa, tinham começado a aparecer os mísseis terra-ar "Strella", de fabrico soviético.
Essa situação impedia a evacuação dos pára-quedistas mortos. Houve a tentativa de os aguentar sem os enterrar, mas era impossível adiar o inevitável, dadas as condições de clima. Mais tarde, numa altura em que a situação na região era mais serena, houve uma tentativa de recuperar os corpos para os entregar às famílias. A autorização, porém, não chegou porque, segundo a legislação da altura, um cadáver só poderia ser levantado sete anos após ter sido enterrado.
Passados trinta e cinco anos, poderá agora ser posta uma pedra sobre os acontecimentos de Guidage.