É novembro e a água corre fininha e segura no canal. Um silvo delicado de vida que escorre pela ilha, levada pela gravidade desde a nascente no alto da serra, em carreiros esculpidos na pedra e na terra. É esta água que chega às torneiras, às plantações de banana, aos campos de golfe, e aciona as centrais hidroelétricas e engenhos antigos, como os moinhos. E é esta água que acompanha os passeios ao longo das levadas, nos vários itinerários turísticos na Madeira.
“Dizemos Madeira é como se a Madeira tivesse um sistema sanguíneo, com as veias, as artérias e os vasos capilares. As artérias, que transportam a água no seu melhor estado, desde a origem, são as levadas principais que distribuem a água pelas secundárias e as secundárias fazem chegar a água aos diferentes campos agrícolas. A Madeira é como se fosse um grande corpo vivo irrigada por água. Se na sua origem teve a lava, na atualidade tem a água”. Susana Fontinha é bióloga e a coordenadora da equipa multidisciplinar que durante três anos preparou a candidatura das levadas da Madeira a património mundial da UNESCO na categoria de paisagem cultural.