Tudo é história quando Germano fala. Histórias daquelas que se saboreiam, abrem caminhos e fazem viajar no tempo. Sentamo-nos numa sala no piso superior do alfarrabista Académica, ainda a conversa está a começar, e já o seguimos pelas entranhas da casa deixando a janela de madeira a bater e os sons do Porto a entrar – uma buzina, ou duas, as vozes das esplanadas e de quem passa. “A livraria antes foi uma casa de meninas, por isso é que tem estes recantos”. Numa das divisões pequenas, baixa-se e retira um monte de folhas amareladas do fundo de uma prateleira. Folhas finíssimas, manuscritas, com grafia pequenina que Germano Silva percorre na demanda de novos pormenores. “É aqui que eu venho muitas vezes”, diz debruçado-se sobre o molho de papel.
As letras são pequenas, a escrita alastra para as margens ocupando todos os bocadinhos daquela missiva antiga, mas isso não lhe causa dificuldade. Aliás, o jornalista de 91 quase 92 anos, não aparenta a idade que tem. É o Porto a sua fonte de juventude. “Os alfarrabistas compram bibliotecas inteiras. Os que vendem, os descendentes nem sabem o que aqui vem”, diz voltando a pôr aquele tesouro no lugar. Um dia vai ali apanhar um detalhe, uma ponta solta, a que vai dar luz. A história de uma cidade faz-se de muitas histórias.