A porcelana é caprichosa. Qualquer descuido na execução, na secagem, na vidragem, na cozedura, podem comprometer uma peça – ou, nesta fábrica, centenas delas. Adriano retira de oito moldes os componentes que vai, delicadamente, unir na escultura de uma imagem religiosa. Mais à frente, Patrícia está na linha de enchimento automático a dar forma a bules, Anabela controla as peças a caminho do secador numa espécie de bailado que faz “quase de olhos fechados”. No final de tudo isto, um carrinho autónomo controlado por computador transporta as peças para o forno. À beira dos dois séculos de vida, na Vista Alegre alia-se ao trabalho manual, de minúcia e detalhe, o contributo da tecnologia.
“O trabalho das pessoas é para se acrescentar valor. O que não acrescenta valor, temos de arranjar uma solução”, explica Mário Oliveira. Estamos “no branco”, diz, na gíria, o responsável pela manufatura, referindo-se à porcelana que só fica branca, a brilhar, quando sai da segunda e última cozedura, após a vidragem, a 1400 graus: no moderno forno, em túnel, um exército de peças circulam, lentamente, num tapete rolante que vai percorrendo as várias temperaturas, entregando a obra acabada. Talvez aí Mário respire de alívio.